Alexandre Tombini, Joaquim Levy e Nelson Barbosa em anúncio de novos ministros: 2015 foi o ano da verdade. (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de dezembro de 2015 às 14h07.
Foi o ano da verdade.
Faz alguns anos, muitos economistas deram o recado: a economia brasileira havia tomado um rumo equivocado, com um governo gastador e interventor demais e uma política econômica carregada da arrogância daqueles que não sabem do que falam. Pagaríamos com isso? Sim, isso também foi avisado: viriam o baixo crescimento da atividade econômica e outros males.
Infelizmente, estavam certos. E 2015 foi o ano em que a fatura começou a ser cobrada.
O ano de 2014 havia terminado com as contas públicas derretendo. Lembre-se bem: a economia vinha desacelerando desde o começo da década de 2010; no primeiro semestre de 2014, presenciamos os primeiros sinais da recessão, com forte diminuição do PIB no segundo trimestre, logo antes da Copa do Mundo.
Aí, depois da Copa, piada pronta: perdíamos também de 7 a 1 na economia, com inflação rondando perto de 7% e o crescimento abaixo de 1%. E, para piorar, nosso déficit em conta corrente – uma medida de nossa necessidade de financiamento externo – chegava a níveis desconfortáveis.
Foi assim que chegamos em 2015, em estado de alerta. Além do PIB fraco e da inflação forte, longe da meta de 4,5% a ano, outros fatores trariam problemas nesta dureza que foi 2015.
Voltando novamente para 2014 para entender o que foi 2015: às vésperas das eleições presidenciais, houve um forte aumento do gasto público que deveria ser corrigido; a defasagem de preço dos combustíveis havia cavado um buraco na Petrobrás e nos negócios dos produtores de álcool (etanol); e o governo estava sangrando com os subsídios para manter o preço da eletricidade artificialmente baixo. Ao mesmo tempo, as investigações da Lava Jato expunham as relações espúrias entre políticos e executivos da Petrobras e grandes construtoras.
Sem um ajuste fiscal de verdade, cortando gastos ou aumentando impostos, nosso grau de investimento não sobreviveria até o fim de 2015. Sem o grau de investimento, pagaríamos mais caro por financiamento externo e nossa moeda perderia poder de compra (em outras palavras, seríamos mais pobres).
Joaquim Levy assumiu o Ministério da Fazenda com a missão de desviar o nosso Titanic dos icebergs. Logo nos primeiros meses de 2015, vimos ajustes nos preços dos combustíveis e das tarifas de eletricidade, assim como medidas para aumentar a arrecadação do governo.
Mas o corte necessário de gastos não veio.
Os únicos cortes substanciais de gastos aconteceram onde não são bem-vindos, isto é, no investimento público. No entanto, não foram resultado de decisões de política econômica, mas consequência da desorganização do setor de construção relacionada à Lava Jato. Afinal, operação da Polícia Federal levou altos dirigentes de construtoras para o cárcere.
O investimento do setor privado também levou uma surra, com a queda no preço do petróleo e metais que levaram a um repensamento do plano de investimento do setor extrativo mineral (mineradoras e petroleiras).
Seguindo logo atrás da queda no investimento, veio o tombo no consumo.
Ainda em 2014 havia uma crescente preocupação com o mercado de trabalho. Em 2015 tornou-se evidente que a preocupação tinha fundamento. Mês após mês os dados de desemprego nas grandes cidades surpreendiam para cima, enquanto a destruição de postos de trabalho batia recordes históricos.
O consumidor tomava nota e logo os números do varejo mostraram quedas nas vendas. Em particular, o efeito negativo se abateu sobre itens duráveis de consumo, como automóveis e linha branca.
Entramos então em recessão – ou, usando os termos adequados, nos metemos é numa baita de uma recessão. E aí nosso sistema político fracassou. Apesar da evidente necessidade de um ajuste fiscal (gastar menos do que se arrecada) que evitasse a perda do grau de investimento, o governo se recusou a assumir o ônus de impor medidas impopulares.
Quando o governo mandou para o Congresso o Orçamento com um déficit primário, na malandra esperança de que o poder legislativo assumisse a paternidade de medidas impopulares, perdemos o grau de investimento pela S&P.
O dólar, que fechara 2014 valendo 2,65 reais, bateu em 4,17 reais em setembro.A inflação, que já sabíamos que estaria acima do teto de 6.5% da meta, passou dos 10% ao ano.
Quase ao mesmo tempo, o governo novamente fracassou em mostrar disposição para fazer o ajuste fiscal. Sinalizou superávit primário de 0,5% para 2016. E poucos se surpreendem quando o Brasil perdeu outro grau de investimento, agora na agência Fitch, e foi relegado a crédito lixo (junk).
Rebaixado para a segunda divisão da economia mundial, a economia do Brasil encerra 2015 quase no fundo do poço (ainda dá para piorar um pouco mais).
Enquanto a economia mundial deve crescer aproximadamente 3%, nossa economia encolheu entre 3,5% e 4%. A inflação passar dos 10% ao ano pela primeira vez em mais de uma década. E o dólar está na casa dos 4 reais.
Nenhuma boa notícia da economia neste balanço de 2015?
A única coisa “boa” vem das contas externas.
Com o consumidor deprimido, sentado de pijama e assistindo novela com a sogra; com nosso empresário com medo (fundamentado) de investir; e com nossas importações cada vez mais minguadas; pelo menos vemos um ajuste nas contas externas.
Que consolo…