Pedro Parente: "para o nosso País, está sendo mais difícil do que se imaginava a velocidade de recuperação da economia" (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de fevereiro de 2017 às 12h48.
São Paulo - O presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou nesta quarta-feira, 1º de fevereiro, que, entre os desafios que a empresa terá nos próximos anos, estão a recuperação mais lenta que o esperado da economia brasileira e as incertezas ligadas ao governo de Donald Trump, nos Estados Unidos.
"Para o nosso País, está sendo mais difícil do que se imaginava a velocidade de recuperação da economia", disse Parente, durante participação no Latin America Investment Conference, promovido pelo Credit Suisse, em São Paulo.
Em relação aos Estados Unidos, Parente destacou que existem incertezas a respeito do comportamento de Donald Trump. "O que ele vai fazer? Pela chegada dele, concluímos que ele vai fazer diferença. Não sabemos a direção, mas ele vai fazer diferença".
O presidente da Petrobras ainda avaliou que os riscos geopolíticos, especialmente no Oriente Médio, e a economia ainda devagar na Europa e na China também representam riscos à empresa. "Na China, com o nível da economia estabilizando em 6%, não podemos falar em desaceleração. Mas, para padrões chineses, preocupa."
Parente afirmou que a empresa já entrou em contato com o Tribunal de Contas da União (TCU) e sugeriu alterações a serem feitas em seu plano de desinvestimento, afirmando ainda que a Petrobras espera que o impasse seja resolvido "o mais rápido possível". "Aguardamos a decisão do tribunal e temos certeza que vão tomar a melhor decisão possível", disse Parente.
Os projetos de "desinvestimento", uma das principais estratégias da estatal para enfrentar a crise financeira, estão suspensos desde 7 de dezembro por uma decisão liminar, devido a irregularidades detectadas nos procedimentos adotados pela companhia. No entanto, conforme noticiado nesta quarta pelo jornal O Estado de S. Paulo, o ministro José Múcio Monteiro, do TCU, vai propor nesta quarta-feira ao plenário da corte que libere a Petrobras para voltar a vender seus ativos e empresas.
"Encaramos o TCU como alguém que nos ajuda. Eles têm um nível técnico extremamente elevado, e as discussões são sempre muito proveitosas", disse Parente, durante participação no evento. "É importante lembrar que em nenhum momento ele disse que nosso programa é ilegal, mas acha que há coisas a serem melhoradas".
Um dos pontos questionados, segundo Parente, é uma demanda para que, desde o início do processo de desinvestimento, seja realizada uma publicidade maior, de modo a atrair qualquer empresa que tenha interesse em participar do processo, e não apenas as companhias convidadas pela Petrobras. "Estamos enfrentando questões em tribunais, mas temos convicção de que, nas instâncias superiores, seremos capazes de mostrar a relevância desse programa", concluiu.
O presidente da Petrobras afirmou também que, caso as condições para os leilões de áreas do pré-sal a serem realizados neste ano sejam adequadas, as disputas "certamente" despertarão grande interesse por parte dos investidores privados. "Claro que olharemos todas as áreas", disse.
Questionado sobre a possibilidade de privatização da Petrobras, o executivo avaliou que a empresa é motivo de orgulho para a sociedade brasileira. "Acho que, no atual contexto, a sociedade não quer (a privatização)", disse. "Não faz parte da nossa agenda, falar disso só atrapalharia."
Parente ainda afirmou que não possui prazo para deixar a presidência da Petrobras. "Tem coisas que dependem da gente e outras que não", disse. "No que depende de mim, eu não tenho prazo. Estou comprometido com a empresa para fazer o que tem que ser feito, e da maneira certa."
O presidente da Petrobras afirmou que a conclusão da revisão envolvendo o processo de cessão onerosa ainda depende da revisão de pareceres técnicos de consultorias internacionais e que a companhia aceitaria eventuais pagamentos em petróleo. "Quando os pareceres ficarem prontos, viremos a público informar os valores", disse Parente, durante a participação no evento em São Paulo. "Naturalmente, nós gostamos de óleo e, portanto, aceitar óleo como pagamento ou parte, para nós, seria de total interesse."
Questionado sobre a possibilidade de a Petrobras abrir mão da exploração inicial dos campos, o executivo afirmou que esse cenário não é possível, uma vez que todos os cálculos de valor presente feitos pela empresa pressupõem o desenvolvimento em paralelo dos campos. "Não é de interesse da empresa ou dos acionistas."
Parente afirmou ainda que eventuais negociações ligadas à Class Action movida contra a empresa devem ocorrer sob a ótica de que a companhia foi vítima do processo de corrupção, e que os valores a serem desembolsados devem ser semelhantes aos acertados com acionistas que preferiram não entrar na Class Action.
"Fizemos acordos em níveis muito inferiores aos demandados pela Class Action e, nesse nível, não vejo nenhuma possibilidade de acordo", disse Parente, durante conversa com jornalistas após participação no Latin America Investment Conference. "A Petrobras admite fazer desembolsos (com a Class Action), se eles chegarem num nível adequado."
Segundo o executivo, as negociações dependem que os envolvidos na Class Action considerem que a Petrobras foi vítima. "Fora dessa condição, não há hipótese de sentarmos para conversar", disse.