Bandeiras da Espanha: entre os dados destacados hoje durante a conversa no Peterson Institute figura a constatação de que a Espanha foi capaz de levar a cabo uma desvalorização interna que muitos consideravam impossível. (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2013 às 16h01.
Washington - O relatório "Espanha, um país de oportunidades" foi recebido "com surpresa" pela audiência internacional pois "não se imaginava" as potencialidades da economia espanhola, segundo disse nesta sexta-feira Fernando Casado, diretor do Conselho Empresarial para a Competitividade (CEC), organismo que apresentou o documento.
O CEC, integrado por quinze grandes multinacionais espanholas e o Instituto de Empresa Familiar, concluiu nesta sexta-feira uma primeira série de conversas nos Estados Unidos, nas quais seus representantes apresentaram entre quarta-feira e hoje as conclusões do relatório em Nova York, Harvard e Washington.
"Saímos muito satisfeitos, como também de Londres e Amsterdã, porque foi notado que não havia uma percepção de que nossa economia seria capaz de fomentar um desenvolvimento nos próximos anos", disse Casado à Agência Efe após apresentar hoje o documento no centro de estudos Peterson Institute for International Economics, em Washington.
"Achamos que o relatório foi amparado com surpresa porque não se imaginava isto e além disso ele fixa uma percepção da economia espanhola diferente da que se tinha. Alguns jornais e meios de comunicação divulgaram esta boa imagem da Espanha, diferente da anterior", afirmou.
O documento, elaborado por analistas e economistas das empresas que integram o Conselho, apresenta dados sobre a capacidade da Espanha para reduzir o déficit público e a dívida privada, flexibilizar o mercado de trabalho, limpar seu sistema financeiro, aumentar as exportações e inovar, entre outros elementos.
"Os membros do Conselho percebemos neste momento uma mudança de tendência da economia após vários trimestres de queda do PIB", disse Casado.
"Valia a pena fazer o esforço para, através desta iniciativa, mudar a percepção que se possa ter sobre nossa economia. Estamos expondo fatos reais que existem em nossa economia e que pretendemos que sejam conhecidos por todos", acrescentou.
Por sua parte, o economista Ángel Ubide, que apresentou os aspectos mais técnicos do relatório nesta viagem pelos Estados Unidos, também considerou "muito positivo" o recebimento do documento.
"Todos os comentários depois da apresentação foram positivos, com surpresa positiva sobre a quantidade de reformas e sobretudo ao dinamismo do setor privado espanhol e do dinamismo das exportações", explicou.
"É preciso mostrar que o compromisso com as reformas é muito forte e que não será dada marcha a ré. É preciso avançar na reforma do mercado de trabalho, melhorar a competitividade das pequenas e médias empresas, mas sobretudo mostrar que o compromisso é forte e vai seguir adiante", recomendou o analista.
"Esta semana tentamos mudar a percepção de que a Espanha é um país onde as coisas não vão funcionar em direção para uma na qual as coisas estão funcionando e vão seguir assim", acrescentou.
Entre os dados destacados hoje durante a conversa no Peterson Institute figura a constatação de que a Espanha foi capaz de levar a cabo uma desvalorização interna que muitos consideravam impossível, isto é, um "ajuste histórico" em cinco anos de sua balança de conta corrente sem recorrer, como no passado, à desvalorização da moeda.
Ubide refutou igualmente a tese da suposta insolvência do sistema financeiro espanhol.
"Claro que há pontos vulneráveis, mas o importante é que os bancos que não tiveram que ser ajudados manejam 70% dos ativos do sistema financeiro espanhol", argumentou.
Ubide também alertou para um aspecto importante da reforma trabalhista realizada na Espanha.
"Existia uma cláusula na legislação trabalhista na Espanha baseada na retroatividade, o que na essência significa que se na negociação de um novo convênio as partes não chegam a um acordo, o acordo anterior de estendia para sempre", explicou.
"Isto mudou agora: se não há acordo novo, o anterior se evapora", assegurou.
"Isso está gerando mudanças importantes na maneira como as negociações são realizadas na Espanha, porque agora os sindicatos têm menos poder de negociação para pedir aumentos nos salários quando isso não é possível", acrescentou.
Casado, por sua parte, ressaltou a importância das reformas continuarem. "Foi obtida a base para se poder ter uma expectativa de crescimento, mas se necessita continuar no caminho das reformas previstas", disse.
"É necessário e nos ajudaria muito que a União Europeia também avançasse em suas reformas em relação à união bancária, o que facilitaria que nossas empresas tivessem custos de financiamento similares aos seus concorrentes, e que se flexibilizasse o déficit fiscal para podermos enfrentar estas reformas com menos custo social", reivindicou o diretor do CEC.