Transporte de fertilizante: Brasil importa cerca de 70% de sua demanda total por fertilizantes, e detém uma fatia de 6% do consumo mundial (Rogério Montenegro/EXAME)
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2013 às 14h33.
São Paulo - A relação de troca entre fertilizantes e grãos segue favorável ao produtor rural apesar da forte alta recente do dólar, uma vez que o repasse do custo maior por parte das empresas está sendo feito em ritmo inferior ao da valorização cambial, avaliou nesta segunda-feira o diretor-executivo da associação que reúne a indústria (Anda).
"De modo geral, o viés de alta nos preços de fertilizantes não está acompanhando na mesma velocidade (a valorização do dólar)... A relação de troca não é a mesma, mas ainda está favorável ao produtor", disse o diretor-executivo da Anda, David Roquetti Filho, a jornalistas no intervalo de um congresso do setor em São Paulo.
O dólar acumula alta de mais de 17 por cento desde o início de maio e opera no maior patamar em mais de quatro anos.
O Brasil importa cerca de 70 por cento de sua demanda total por fertilizantes, e detém uma fatia de 6 por cento do consumo mundial, atrás de China que tem 33 por cento, Índia com 17 por cento e Estados Unidos com 12 por cento.
Neste cenário, o país é vulnerável às oscilações de preços do mercado internacional, lembrou o executivo.
As vendas de fertilizantes no Brasil cresceram 5,5 por cento de janeiro até julho na comparação com o mesmo período de 2012, para o recorde de 15,1 milhões de toneladas, segundo levantamento mensal da Anda.
O Brasil está se preparando para o cultivo da safra de verão da temporada 2013/14, que tem início a partir de meados de setembro, com forte demanda dos produtores por insumos.
O setor deve encerrar o ano com volume recorde de vendas em cerca de 30,5 milhões de toneladas, segundo estimativa da GO Consultores citada pelo diretor da Anda.
No mesmo período, as importações de fertilizantes intermediários --utilizados na mistura final de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio)-- subiram 13 por cento na comparação com o mesmo período do ano passado, somando 11,8 milhões de toneladas.
Já na avaliação do diretor-executivo da Ama-Brasil, entidade que reúne as misturadoras de fertilizantes, o repasse acontece na medida em que o dólar sobe, porque o impacto é direto no custo de produção industrial. No entanto, ele pondera que o cenário atual ainda é favorável ao produtor.
"A relação de troca piorou, mas ainda está confortável para o produtor", disse Carlos Eduardo Florence.
Florence observou que o acompanhamento mensal estatístico da Anda indica que atualmente são necessárias cerca de 20 sacas para um produtor adquirir uma tonelada de fertilizantes em média no Brasil. O número varia em função dos preços da commodity e a distância de áreas fornecedoras do insumo.
Quando os preços da soja estavam em valores mais elevados, há alguns meses, esta relação chegou a recuar para cerca de 17 sacas.
Potássio
O executivo ressaltou que o mercado está instável, especialmente no segmento de potássio, desde que a russa Uralkali desmantelou uma das maiores parcerias do mundo no setor, deixando uma joint venture com o seu parceiro da Belarus.
"A expectativa era de que os preços do potássio caíssem bastante. Na prática, o preço baixou um pouco, mas agora está estável", afirmou Florence.
No acompanhamento da Ama-Brasil, o preço médio internacional do potássio antes da separação da empresa russa estava entre 430 a 440 dólares, agora recuou para 380 a 400 dólares.
"A expectativa era que caísse mais", acrescentou.
O Brasil importa cerca de 90 por cento de sua demanda total por fertilizantes potássicos, mas o executivo lembrou que os importadores já compraram grande parte dos volumes necessários para o cultivo da próxima safra.
Já na avaliação do diretor da Anda, o preço do insumo pode até recuar no curto prazo, mas por se tratar de um setor concentrado em poucas empresas, a tendência de baixa no médio e longo prazo é muito pequena.