Economia

Reforma Tributária: governo faz as contas para evitar que isenção para carnes aumente imposto

Deputados levam proposta a Haddad, que vai calcular impacto na alíquota

 (Paulo Whitaker/Reuters)

(Paulo Whitaker/Reuters)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 2 de julho de 2024 às 09h49.

Última atualização em 2 de julho de 2024 às 10h01.

Os deputados do grupo de trabalho que analisa a regulamentação do primeiro texto da Reforma Tributária fecharam questão sobre a inclusão das carnes na cesta básica com alíquota zero. Em reunião domingo na Câmara dos Deputados, o chamado G7 — que conta com sete parlamentares — concordaram que as proteínas bovinas, de frango e peixe devem ser isentas de imposto. A proposta foi levada ontem a uma reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Os parlamentares ainda querem incluir o sal, que ficou de fora da isenção na versão do texto apresentada pelo governo. Para evitar a elevação da alíquota padrão, prevista inicialmente em 26,5%, eles vão incluir mais itens no Imposto Seletivo, que terá alíquotas maiores e vai incidir sobre itens que fazem mal à saúde e ao meio ambiente, como cigarro. A ideia é incluir carros elétricos e apostas on-line.

"A propensão de colocar carne de gado, frango e peixe é muito grande, de 99%. Todo mundo quer isso", afirmou o deputado Hildo Rocha (MDB-MA).

Na versão original do texto da reforma encaminhado ao Congresso, as carnes teriam redução de 60% da alíquota padrão.

Carro elétrico e jogos

Depois da reunião, Haddad evitou dizer se a equipe econômica concorda com a medida, que pode impactar a alíquota padrão a ser criada com a unificação de impostos. Ele explicou que o secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, ficou de informar ao grupo o impacto da medida.

"Isso foi discutido, e o Appy ficou de passar eles o impacto de cada excepcionalidade, do mesmo jeito que nós fizemos com a PEC da Reforma Tributária. A cada proposta, nós temos um modelo que funciona, funcionou bem na PEC e funcionará bem na regulamentação", disse o ministro. "Toda a proposta vai ser endereçada à equipe da Fazenda, que vai retornar para aquela comissão constituída pelo Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados), que vai saber exatamente o impacto na alíquota padrão".

Segundo o deputado Claudio Cajado (PL-BA), foi levado ao ministro o prazo de apresentação do relatório e o alinhamento de questões mais técnicas do texto, como cesta básica e cashback.

A preocupação neste momento é construir um texto que não gere judicialização, afirmou. As demandas políticas, ressaltou Cajado, ainda não foram analisadas, o que poderá ocorrer até momentos antes da votação pelo plenário.

O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Juntos eles formam o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que vai unificar cinco tributos que incidem hoje sobre o consumo.

O IBS vai reunir o ICMS, imposto estadual, e o ISS, municipal. Já a CBS vai unir PIS, Cofins e IPI, todos de âmbito federal. As alíquotas de IBS e CBS vão somar os 26,5% previstos na regulamentação da reforma, que será a alíquota de referência a incidir sobre bens e serviços.

Essa alíquota, porém, poderá ser maior ou menor, conforme as exceções e regimes especiais previstos na reforma.

Os parlamentares apostam que, com mais produtos no Imposto Seletivo (também chamado de Imposto do Pecado), será possível baixar a alíquota padrão para uma média de 25% a partir de 2033, quando o novo sistema estará em pleno funcionamento.

Antes, o Ministério da Fazenda apostava que a inclusão de proteínas na cesta básica com imposto zerado poderia elevar a taxa de referência para até 27%.

"Estamos tentando conciliar colocando proteína, mas sem aumentar a alíquota. Nosso compromisso é trabalhar para incluir, sem aumentar", disse Moses Rodrigues (União-CE).

O parecer deve ser apresentado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), entre hoje à noite e amanhã de manhã.

"Cabem algumas coisas (na cesta básica) por causa do Imposto Seletivo. Em 2033, já deve entrar uma alíquota de 25%, 24,5%, vai diminuindo e estamos apostando que até 2035, a alíquota estará em torno de 22%", afirmou o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG).

Entre os itens que podem ser incluídos no Imposto Seletivo estão carros elétricos e jogos on-line ou mesmo físicos, caso estes sejam autorizados no país.

A decisão, porém, ainda não foi tomada, por faltar consenso entre os parlamentares. Os deputados afirmam que ainda não foram procurados por representantes dos setores.

No caso dos carros elétricos, o argumento usado por ambientalistas e deputados para justificar a inclusão no Imposto Seletivo é, principalmente, o fim pouco sustentável de baterias. Elas são feitas, em sua maioria, de lítio, minério que pode contaminar o solo e a água. A lógica é que a proteção ambiental deve ocorrer do “berço ao túmulo”, ou seja, desde a extração do material até seu descarte.

O segundo texto da regulamentação da reforma, que também deve ser apresentado amanhã, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.

Votação semana que vem

O grupo de trabalho que discute o Comitê Gestor também se reuniu ontem para afinar os últimos pontos do texto. Hoje, os parlamentares vão mostrar as modificações aos governadores, em reunião em Brasília, e a versão final deve ser apresentada amanhã a Lira.

A previsão é que no mesmo dia seja publicado o texto e, na quinta-feira, haja uma entrevista coletiva à imprensa para esclarecer dúvidas. Os parlamentares do grupo de trabalho estimam que a proposta será aprovada na semana que vem.

"A gente está saindo daqui muito animado. Está sendo construído um entendimento em torno do relatório. Será um texto harmônico e a gente vai conseguir avançar, aprovando na Câmara dos Deputados", disse o deputado Augusto Coutinho (Republicanos-PE).

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também participou da reunião. "Estamos muito confiantes de que a Câmara dos Deputados vai dedicar os próximos dias a concluir a votação da regulamentação da Reforma Tributária ainda neste semestre legislativo (que se encerra em 17 de julho)".

Acompanhe tudo sobre:Reforma tributária

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor