Economia

Recuperação total do PIB perdido na pandemia ainda depende de vacina

Apesar de ainda não ter recuperado tudo o que perdeu com a pandemia, economia tem reagido de forma rápida; o futuro, porém, ainda é muito incerto

Ponte internacional sendo construída entre Foz do Iguaçu, no Brasil, e Presidente Franco, no Paraguai, tirada em 1º de dezembro de 2020.  (NORBERTO DUARTE / AFP/Getty Images)

Ponte internacional sendo construída entre Foz do Iguaçu, no Brasil, e Presidente Franco, no Paraguai, tirada em 1º de dezembro de 2020. (NORBERTO DUARTE / AFP/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 14h01.

Última atualização em 3 de dezembro de 2020 às 15h58.

A economia brasileira ainda não recuperou o que perdeu com a pandemia, mas mostra, de uma forma geral, rápida reação em relação ao pior momento da crise. Para que esse ritmo seja mantido, dois fatores são vistos como primordiais, segundo economistas ouvidos pela EXAME: começo da vacinação ainda no primeiro semestre do ano que vem e compromisso do governo com o teto de gastos.

O cenário político e econômico está em constante mudança no Brasil. Venha aprender o que realmente importa na EXAME Research

O produto interno bruto (PIB) cresceu 7,7% no terceiro trimestre do ano em comparação com o período imediatamente anterior, recuperando parte os 9,7% perdidos de julho a setembro, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 3. Apesar de o número ter vindo pior do que a expectativa do mercado, que ficava em torno de uma alta de 8,7%, a diferença é explicada em grande parte por revisões na série histórica, normalmente divulgadas no terceiro trimestre pelo instituto.

Uma surpresa positiva veio no setor de serviços — que tem um peso de cerca de 70% do PIB —, especialmente na categoria "outros", que inclui serviços prestados às famílias. Apesar de o setor ter categorias 10% abaixo do nível pré-crise, que dependem mais da circulação de pessoas e aglomerações, conseguiu avançar 6,3% de julho a setembro na comparação trimestral.

"De fato, o auxílio emergencial teve muita relevância nesse resultado, assim como a política de manutenção do emprego formal e de crédito com a contrapartida de não demissão", diz Luana Miranda, economista e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, (Ibre-FGV).

Após a divulgação do PIB, o Ibre revisou sua previsão para o recuo do ano de 5% para 4,7%.

Além de serviços, Indústria também ajudou o resultado total do trimestre, com alta de 14,8% na margem. "A parte de construção civil está sim puxando o PIB e deve continuar, enquanto o Brasil tiver juros baixos, que beneficiam setores sensíveis a crédito", diz Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco. Dentro da categoria indústria, construção avançou 5,6% de um trimestre para o outro.

O Itaú manteve sua expectativa de queda de 4,1% para o PIB neste ano. A instituição revisou esse número recentemente, de uma queda de 4,5%.

No gráfico abaixo, produzido pela MB Associados, é possível ver com clareza o quanto falta para o PIB se recuperar da crise trazida pela pandemia:

(MB Associados/Divulgação)

Motivos para duvidar

O resultado de hoje é bom, mas existe ainda um alerta para o resultado dos próximos trimestres, destaca Luana, do Ibre, "Em termos de recuperação, a reação é positiva,  mas há aumento de casos de covid-19 no Brasil, que pode levar a novas medidas restritivas à circulação, que já afetam São Paulo, por exemplo", diz Luana.

"Como o vírus voltou a acelerar, a continuidade da retomada vai depender de quão rápido o Brasil será para vacinar a população. Esse será o fator de impulso para a economia", completa Luka.

O economista do Itaú chama atenção também para o comprometimento do governo com a questão fiscal, que ainda não é certo. Segundo ele, o risco ligado à dinâmica da dívida pública existe e é importante que o governo tire os auxílios emergenciais no ano que vem para não que ela não fique explosiva e desancorada:

"Em discurso recente, o governo voltou a sinalizar que suas intenções vão em linha com o fim desses pagamentos e com a necessidade de se manter o teto de gastos no ano que vem, mas isso precisa se confirmar", diz.

Já o Goldman Sachs espera que a atividade real continue a se recuperar nos próximos meses, apoiada pela flexibilização gradual e seletiva dos bloqueios e protocolos de distanciamento social, condições financeiras internas e externas mais fáceis. Mas também faz um alerta sobre o quadro viral no país:

"Ainda é uma questão muito complexa, que se junta a um mercado de trabalho fraco e à esperada eliminação gradual dos auxílios emergenciais, de forma a suavizar o ritmo da recuperação até que a implantação de programas de vacinação em massa permita uma melhor mobilidade e atividade, particularmente em alguns setores de serviços ainda atrasados", diz Alberto Ramos, chefe de análises para América Latina do banco, em nota.

Embora a cena seja incerta, está garantido para o ano que vem um crescimento em torno de 3,5%, por conta do carregamento estatístico. "O crescimento seguirá muito desigual entre os setores, o que pode melhorar se houver vacinação, permitindo também a volta da mobilidade", diz Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro do Ibre-FGV.

A economista alerta, porém que, assim que o impasse da pandemia for resolvido, o país volta para o antigo impasse: "Os desafios para a economia, que já existiam antes dessa crise, voltarão a estar no foco. O maior deles é conseguir sair da toada do crescimento dos últimos anos, ao redor de 1%". 

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusCrise econômicaeconomia-brasileiraPIBPIB do Brasil

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto