Economia

“Recuperação está mais lenta e gradual”, diz consultor do BM

Transição para um novo modelo baseado em investimento está mais lenta que o desejável, segundo Otaviano Canuto


	Para Canuto, o Brasil não é um país onde as contas públicas sejam tão opacas como em muitas partes do mundo, mas existe espaço para mais transparência
 (Agência Brasil)

Para Canuto, o Brasil não é um país onde as contas públicas sejam tão opacas como em muitas partes do mundo, mas existe espaço para mais transparência (Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2013 às 16h51.

São Paulo – Já se imaginava que a recuperação da economia brasileira seria lenta e gradual no começo do ano mas, agora, vê-se que ela está mais lenta e mais gradual do que se imaginava, segundo Otaviano Canuto, consultor sênior em BRICS no Departamento de economias em desenvolvimento do Banco Mundial.

O Banco Central diminuiu sua projeção de crescimento para a economia brasileira em 2013 – a expectativa de crescimento passou de 3,1% para 2,7% no Relatório de Inflação divulgado hoje.

Para Canuto, é inevitável submeter a estrutura de gastos públicos do Brasil a um crivo em busca de maior resultado por unidade de gastos e de maior transparência.

Otaviano Canuto participou, hoje, de evento realizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e conversou, por telefone, com a EXAME.com. Leia a entrevista:

EXAME.com - O Banco Central mudou sua projeção de crescimento do PIB brasileiro para 2,7% esse é o patamar adequado de crescimento para o Brasil no cenário atual?

Otaviano Canuto - Certamente a taxa de crescimento do PIB brasileiro adequada seria maior que essa. A recuperação, que já se imaginava lenta e gradual no começo do ano, tem se verificado mais lenta e gradual do que se imaginava. O crescimento econômico brasileiro tem sido, de fato, inferior ao de economias com situações similares. Sabemos que o padrão de crescimento que prevaleceu no país até aqui, que deu muito certo em vários sentidos, particularmente quanto à redução de pobreza, é um padrão que atingiu seus limites e a própria resposta à crise financeira serviu como uma espécie de antecipação da exaustão desse modelo. O modelo é baseado no consumo, com salários reais crescendo acima da produtividade e uma redução dramática na taxa de desemprego, mas esse modelo precisa dar lugar a um outro mas centrado, com taxas de investimento maiores que 20% no PIB. Essa transição para um novo modelo baseado em investimento está mais lenta que o desejável.

EXAME.com - Como o governo pode incentivar os investimentos?

Canuto - Com previsibilidade e mais clareza quanto às regras do jogo, particularmente no que diz respeito à participação da iniciativa privada nos projetos de infraestrutura. É preciso ser menos ameno no varejo especifico e ter mais ações de natureza horizontal, isso teria um efeito importante sobre a desconfiança do setor privado.


EXAME.com - Que tipo de ação tornaria mais atraente para as empresas privadas o tipo de parceria público privada proposta pelo governo em projetos de infraestrutura, por exemplo?

Canuto - Regras mais claras para parcerias público privadas e a garantia de uma trajetória de sustentabilidade fiscal com transparência seriam o ideal. Acho que é inevitável submeter a estrutura de gastos públicos do Brasil a um crivo em busca de maior resultado por unidade de gastos e de maior transparência. O Brasil, evidentemente, não é um país onde as contas públicas sejam tão opacas como em muitas partes do mundo, mas, por outro lado, há terreno a ganhar, temos um copo meio cheio e meio vazio, existe espaço para mais transparência.

EXAME.com - Parece que o momento que o Brasil parecia mais atrativo para o mundo já passou, que país aparece como um substituto?

Canuto - O peso estrutural do Brasil vai continuar colocando o pais numa posição peculiar. O que acontece é que, de certa maneira, nesse momento, o Brasil está atrás do México em uma coisa. Tanto o Brasil quanto o México adotaram políticas anticíclicas como resposta ao choque global de 2008, porém, os mexicanos se deram conta antes de nós que esse era um recurso a ser utilizado uma vez e nada adiantaria recorrer ao mesmo tipo de política como resposta a uma crise. O Brasil continuou por mais tempo usando os mesmos instrumento que usou na época da crise estrutural e os resultados deixaram de ter o efeito obtido inicialmente, porque o espaço para políticas anticíclicas foi exaurido. No México, a agenda foi mais de reformas estruturais. É nesse sentido que a percepção externa é que, talvez, o México tenha diluído melhor as implicações do ambiente internacional e agido mais rápido que o Brasil. Nada impede que, com a agenda sendo mais adequada no Brasil, a percepção melhore. Quanto mais você avançar para reformas estruturais, melhor.

EXAME.com - As propostas apresentadas pela presidente Dilma no começo da semana tem esse sentido?

Canuto - Penso que a reação da presidente refletiu a percepção de que a agenda tem que caminhar no sentido de reformas. Quanto aos princípios mais gerais, é o processo politico de construção e detalhamento das propostas apresentadas que vai dar substância. É um conjunto de propostas que tem potencial de gerar a agenda concreta, como se diz no ditado em inglês, “a prova do pudim está em comê-lo”.

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