Economia

Recessão se aproxima de Hong Kong e não há perspectiva de recuperação

Economia da cidade é altamente vulnerável ao abalo da confiança causado pelo acirramento dos confrontos nas ruas

Protesto em Hong Kong (Tyrone Siu/Reuters)

Protesto em Hong Kong (Tyrone Siu/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 13 de outubro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 13 de outubro de 2019 às 08h00.

Hong Kong pode enfrentar sua primeira recessão desde a crise financeira global e com poucas perspectivas de recuperação imediata, diante dos violentos protestos que dominam a cidade.

Hotéis de luxo, grandes shopping centers, lojas de bairro e restaurantes em centros turísticos como Central, Causeway Bay e Tsim Sha Tsui agora fecham mais cedo ou recebem menos clientes.

Mesmo quando o comércio está aberto, as lojas e o aeroporto quase não têm movimento diante da fuga dos turistas.

A rede de metrô da cidade, a MTR, ficou totalmente fechada por longos períodos durante o feriado de 4 de outubro, em meio à violenta reação contra a presidente-executiva Carrie Lam, que tentou reprimir meses de protestos com uma lei de emergência da era colonial.

A economia de Hong Kong encolheu no segundo trimestre e quase certamente no terceiro, enquanto os dados continuam a mostrar deterioração. A questão é a profundidade e prazo da crise.

Outrora a potência industrial da Ásia antes da ascensão da China continental, a economia de Hong Kong, impulsionada pelo consumo e finanças, é altamente vulnerável ao abalo da confiança causado pelas turbulências.

O governo da cidade tem se esforçado para afirmar que possui as ferramentas políticas para evitar a recessão enquanto a agitação continua.

“Não espero ver fortes medidas que possam mudar instantaneamente as coisas”, disse Dong Chen, economista sênior para a Ásia na Pictet Wealth Management, que, juntamente com outros especialistas, prevê que a economia de Hong Kong voltou a mostrar retração nos três meses até setembro. “O melhor cenário é que, após essa agitação política, eles poderão propor um planejamento ou medidas a longo prazo para resolver problemas estruturais.”

Os efeitos da guerra comercial EUA-China combinados com a queda dos gastos dos turistas também aumentam a perspectiva de uma retração no ano inteiro em comparação com 2018.

A desaceleração foi rápida, pois o declínio das exportações e os protestos eliminaram qualquer impulso econômico do início de 2019.

Quando o secretário financeiro Paul Chan revelou o orçamento em fevereiro, previa um crescimento anual de 2% a 3% - em agosto, Chan cortou a previsão para um intervalo entre zero e 1%.

Muitos economistas projetam o crescimento em 2019 bem abaixo de 1% - a previsão mais recente do JPMorgan Chase é de 0,3%, o que seria o resultado mais fraco desde 2009.

A crise também afetou o mercado acionário de Hong Kong. O Índice MSCI Hong Kong acumula queda de 18% em relação ao pico de abril, com as açõesdo setor imobiliário e de consumo liderando as perdas no período.

Em conferência de imprensa na terça-feira, a presidente-executiva de Hong Kong disse que as chegadas de visitantes caíram em mais da metade entre 1 e 6 de outubro, a “Semana Dourada”, quando turistas do continente normalmente inundam as lojas de Hong Kong para comprar produtos de luxo.

Juntamente com a provável confirmação de uma recessão, os números do PIB do terceiro trimestre, que serão divulgados em 31 de outubro, podem indicar previsões de crescimento ainda mais fracas para o resto do ano.

Hong Kong já enfrentou sérios desafios econômicos antes. No início dos anos 2000, a epidemia de Sars paralisou a cidade em meio a temores de propagação do vírus mortal. Quando as coisas se normalizaram, no entanto, os turistas voltaram e a confiança nos negócios se recuperou.

A diferença agora é que há pouca expectativa de uma resolução rápida, pois as posições se radicalizam em ambos os lados das barricadas.

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