Economia

Receita fecha o cerco contra entrada irregular de calçados no país

Órgão planeja operações semelhantes nos setores óticos, de pneus e de brinquedos

A Receita teve ajuda do setor de calçados brasileiro na operação  (Silvio Avila/VEJA)

A Receita teve ajuda do setor de calçados brasileiro na operação (Silvio Avila/VEJA)

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Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2011 às 17h23.

Brasília – A Receita Federal confirmou hoje o início da Operação Passos Largos para combater a importação irregular de calçados, como antecipou na última quarta-feira a Agência Brasil. Operações parecidas estão sendo planejadas para os setores ótico, de pneus e de brinquedos, considerados problemáticos pelo Fisco e por fabricantes nacionais.

O primeiro setor a ter o controle das importações intensificado foi o de produtos têxteis e vestuário, com a Operação Panos Quentes 3, que começou em agosto e foi finalizada hoje.

Para operacionalizar a Operação Passos Largos, a Receita Federal assinou convênio técnico com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), que permitirá a troca de informações entre a entidade e a Coordenação-Geral de Administração Aduaneira (Coana) para melhorar a identificação dos produtos irregulares que chegam ao país.

“Nós estamos conversando com vários setores para ver quais necessitam de medidas assemelhadas. Com o setor de calçados, a nossa expectativa é de uma parceria muito produtiva, que possibilitará mais agilidade na identificação e classificação dos produtos [que vêm do exterior]”, disse a secretária adjunta da Receita Federal, Zayda Manatta.

Como fez com a Operação Panos Quentes 3, a Receita irá, a partir da próxima segunda-feira (19), mudar os procedimentos aduaneiros, com as mercadorias submetidas a um regime especial de controle. Ou seja, os produtos passarão a ser direcionados para os canais vermelho e cinza. Com isso, as mercadorias podem ficar retidas para averiguação por 90 dias, com o prazo podendo ser prorrogado por igual período.

Na importação, há quatro canais de parametrização das cargas: verde (não há conferência documental nem física da carga), amarelo (realiza-se somente a análise da documentação), vermelho (que implica a verificação documental e física) e cinza (quando há suspeita da ocorrência de fraude, situação em que a carga somente é liberada mediante apresentação de garantia pelo importador).


O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, lembrou que o Brasil já abriu processo para investigar a triangulação de produtos, feita pelo Vietnã e a Indonésia. A triangulação é uma prática irregular de comércio exterior por meio da qual um produto fabricado em determinado país é exportado por meio de outro com certificação de origem irregular.

“Esses ainda fabricam [Vietnã e Indonésia], mas existem outros, como Hong-Kong, Macau, Bélgica e Alemanha, cujas importações chegam no Brasil como se os calçados fossem fabricados lá”, disse Cardoso. Outro problema, alertou, é que o excedente mundial, após a queda no consumo causada pela crise mundial, tem levado os produtores de outros países a direcionar suas mercadorias para o Brasil.

Na Operação Panos Quentes 3, iniciada em agosto, 521 declarações de importação foram fiscalizadas, sendo que 180 delas apresentaram irregularidades. De um total de US$ 26 milhões de importações, US$ 11,34 milhões foram identificadas com irregularidades, que incluíam desde o volume informado até a origem dos produtos.

O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, destacou a importância das operações da Receita Federal no combate a importações irregulares. Segundo ele, em 2007, o Brasil importava vestuário a US$ 7 por quilo, valor muito aquém do preço médio mundial.

Com as medidas, o preço passou para um valor “mais realista”, de US$ 17 por quilo. “As medidas da Receita confirmaram a suspeição. O valor de US$ 7 por quilo não pagava, muitas vezes, a matéria-prima incorporada ao produto final importado. Com a Operação Panos Quentes 3 e outras medidas do governo, estamos com o preço razoável e em níveis internacionais”, disse.

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