Nota de 10 liras turcas (Chris Ratcliffe/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 16h58.
Bancos centrais de nações emergentes estão ganhando a confiança dos investidores, mostrando que são capazes de suportar choques ao implementar medidas econômicas ortodoxas e ignorar pressões políticas.
Enquanto a crise econômica na Turquia ameaçava abalar os mercados de países em desenvolvimento nesta semana, autoridades de Jacarta a Buenos Aires reagiram com pulso firme.
A reação dessas nações — subir juros, vender reservas ou apenas demonstrar atenção ao que está acontecendo – contrasta com a recusa da Turquia de seguir o manual convencional e elevar juros para defender a moeda, que parecia estar em queda livre no começo da semana.
Com essa governança clássica, em vez de uma crise de grandes proporções, o que se observa é resistência. Um índice de moedas de países emergentes recuou apenas 2 por cento na última semana.
Investidores afirmam que bancos centrais em diversas nações emergentes estão muito mais fortes do que há 10 ou 20 anos.
Essas instituições “ficaram melhores, de modo geral” para lidar com crises, disse Mike Moran, economista-chefe para as Américas do Standard Chartered Bank, em Nova York. Segundo ele, medidas tomadas por Argentina, Tailândia e Indonésia no sentido de eliminar regimes de câmbio fixo e ampliar reservas cambiais fortaleceram as barreiras contra pressões súbitas dos mercados.
Estas foram algumas das principais decisões anunciadas nesta semana:
Após mais de uma década em que o governo ditava a política monetária, o presidente Mauricio Macri permitiu que o banco central definisse uma meta de inflação e fizesse os ajustes correspondentes nos juros.
A instituição elevou a taxa básica (que já era a mais alta do mundo) em 5 pontos percentuais para 45 por cento na segunda-feira e ofereceu US$ 500 milhões para sustentar o peso. Também foi divulgado um plano para reduzir gradualmente até dezembro o estoque de 1 trilhão de pesos (US$ 33,2 bilhões) em notas de curto prazo chamadas Lebacs, a fim de limitar a volatilidade que costumava aumentar com a rolagem dos papéis.
“A reação da Argentina, com medidas contundentes a adequadas tanto no âmbito monetário quanto fiscal, é animadora”, disse Mauro Roca, diretor-gerente para mercados emergentes da TCW Group, em Los Angeles. “Mostra que tem reflexo e espaço para manobra para responder a choques externos.”
A desvalorização da rupia também pressionou as autoridades a agir. O banco central vendeu bilhões de dólares em reservas para conter a queda da moeda e elevou a taxa básica de juros pela quarta vez desde maio, para 5,5 por cento.
Nesta semana, foi anunciado um plano para restringir importações de bens de consumo e bens de capital e acelerar o uso de biocombustível para diminuir a compra de petróleo do exterior, promovendo a substituição de importações sempre que possível.
O banco central apenas garantiu que está monitorando qualquer contágio da crise na Turquia. Um golpe colocou os militares no poder no país em 2014, mas o banco central tem insistido para manter a política monetária independente.
O banco central sul-africano também se limitou a intervenções verbais. O vice-presidente da instituição, Daniele Mminele, afirmou que a depreciação do rand para o menor nível em mais de dois anos é apenas um movimento exagerado ligado ao contágio da crise na Turquia. Segundo ele, o comitê de política monetária só vai reagir se a desvalorização cambial se espalhar pela economia. A inflação no país permanece dentro do intervalo da meta há mais de um ano.
O banco central elevou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual neste ano para conter a disparada da inflação e ajudar a estabilizar a moeda, que está entre as de pior desempenho na Ásia. A instituição também foi obrigada a vender reservas, que caíram para o menor patamar desde 2012.
O comandante do BC, Nestor Espenilla, declarou nesta semana que o país tem diversas proteções contra choques externos, como crescimento econômico robusto, baixo endividamento e regime de câmbio flexível.
A rupia caiu para o menor nível histórico nesta semana, mas o governo avisou que não ficará preocupado enquanto o movimento for alinhado ao de outras moedas. O banco central elevou os juros duas vezes desde junho para segurar a inflação e usou reservas para conter a volatilidade cambial.