Economia

Quem são os 9,6 milhões de jovens da geração nem-nem

IBGE mostrou que 9,6 milhões de pessoas, ou um em cada cinco jovens do país, não estudam nem trabalham


	Mulher andando sozinha na praia: 70% dos "nem-nems" são mulheres
 (Sanja Gjenero / Stock Xchng)

Mulher andando sozinha na praia: 70% dos "nem-nems" são mulheres (Sanja Gjenero / Stock Xchng)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 4 de dezembro de 2013 às 18h51.

São Paulo - Com desemprego baixo e escolaridade média em alta, o que leva um jovem brasileiro a optar por não trabalhar nem estudar? Maternidade é uma das principais respostas.

De acordo com os últimos dados do IBGE, o Brasil tem hoje 9,6 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos que não estão nem no mercado de trabalho, nem no sistema de ensino. A proporção de "nem-nems" vai de 15% dos jovens no Sul a 23,9% no Nordeste.

Na média, os nem-nems são o equivalente a 19,6% do total desta faixa etária - ou cerca de um a cada cinco jovens.

A taxa pouco mudou ao longo da última década, o que por si só já é um mau sinal: "Esse jovem desocupado é uma perda social para o país e precisamos de políticas públicas para o desenvolver. Estamos atrás de muitos países da América Latina nesse sentido", diz Cristiane Soares, pesquisadora do IBGE.

Mulheres

7 a cada 10 dos chamados "nem-nems" são mulheres, e a maternidade parece ser o principal fator que explica a discrepância: 58,4% das mulheres neste grupo tinham pelo menos um filho.

Das nem-nems mais velhas, de 25 a 29 anos, 74% já são mães.

A opção delas de ficar em casa com os filhos reflete um custo de oportunidade, já que as vagas de creche são insuficientes para atender a demanda. Atualmente, apenas 2 em cada 10 crianças de até 3 anos frequentam creche.

"Você precisa de estruturas para permitir que a mulher concilie sua educação, emprego e cuidado da família, e o Brasil ainda tem vários gargalos nessa área", nota Cristiane.


Aparece aí também uma diferença de renda relevante: no caso das famílias mais pobres, a vaga na creche particular pode sair mais cara do que o eventual salário que aquela mãe poderia ganhar se voltasse ao mercado de trabalho.

A proporção de crianças com idade entre 2 e 3 anos que frequentavam creche era quase o triplo para o quinto da população mais rica (63%) em relação ao quinto mais pobre (21,9%). 

Educação

Os dados também mostram que a maternidade precoce pode ter efeito sobre a educação: quanto antes chega o filho, maior a chance de uma mulher deixar os estudos.

Na faixa dos jovens entre 15 e 17 anos, por exemplo, 88,1% das mulheres sem filhos estudavam. Entre as que tinham um filho ou mais, só 28,5% continuavam na escola.

Entra aí também o gargalo de faltas de vagas nas universidades e no ensino profissionalizante. E como mais anos de estudo geralmente significam uma maior renda no futuro, de acordo com várias pesquisas, as consequências podem ser ainda piores no longo prazo. 


Escolaridade

O perfil educacional dos nem-nems acompanhou a melhora da escolaridade geral do brasileiro. Em 2002, praticamente metade dos nem-nems tinha fundamental incompleto, índice que caiu para 32,4% em 2012.

Já a proporção de nem-nems com ensino médio completo foi de 25,5% em 2002 para 38,6% no ano passado. Apenas 5,6% dos nem-nems tem ensino superior completo ou incompleto.

Mercado de trabalho

No curto prazo, o número pode refletir também a situação do mercado de trabalho. Se as empresas sinalizam que não estão contratando, isso também desestimula as pessoas a procurarem emprego. 

Historicamente e ao redor do mundo, os jovens são os mais vulneráveis às flutuações do emprego (como mostram os dados de desemprego da juventude europeia). Cristiane nota que a busca frustrada por um primeiro emprego também é um obstáculo que gera nem-nems. 

Números do IBGE de outubro mostraram que a população não-economicamente ativa, que não está empregada nem procurando emprego, cresceu 3% em um ano, primeiro aumento desde o início de 2010.

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