Mulheres da Comunidade da Mangueira, Rio de Janeiro em 2016 (Mario Tama/Getty Images)
Isabela Rovaroto
Publicado em 19 de maio de 2018 às 08h00.
Última atualização em 21 de maio de 2018 às 13h48.
São Paulo - O número de brasileiros em pobreza extrema aumentou no último ano, apesar do fim da recessão econômica.
De 2016 para 2017, 1,49 milhão de pessoas entraram na categoria e a porcentagem passou de 6,2% da população para 7,2%, totalizando 14,83 milhões de pessoas. Em média, a extrema pobreza no Brasil cresceu 11,2% em 2017.
Os dados são de uma pesquisa realizada pela LCA Consultores, com base nos dados da Pnad Contínua divulgados no dia 11 de abril pelo IBGE.
São consideradas em extrema pobreza pessoas com renda domiciliar per capita igual ou abaixo de US$ 1,90 por dia ou que recebem menos de R$ 136,00 por mês.
De acordo com a pesquisa, 55% estão na região Nordeste, 75% são pretos ou pardos e 51% são mulheres.
Contexto
Após quedas consecutivas de 3,5% por dois anos, o PIB voltou a crescer em 2017. Mas segundo o Cosmo Donato, economista da LCA que participou do levantamento, a retomada cíclica não alcançou a população que trabalha no mercado informal, com baixa qualificação e que vive em áreas mais isoladas.
Além da queda de renda e aumento do desemprego dos últimos anos, o economista aponta a crise fiscal dos estados como outro fator responsável pelo aumento da extrema pobreza.
“Com a contenção de gastos públicos, os investimentos federais e estatais em obras públicas não chegam aos locais onde essas pessoas vivem”, explicou.
De acordo com a pesquisa, a região Nordeste teve um aumento de 10,8% na extrema pobreza, seguido pelo Sudeste com 13,8%. As duas regiões somam 77,1% de participação no número total de pessoas em extrema pobreza em 2017.
Na região Norte a aumento foi de 2% e nas regiões Centro-Oeste e Sul foi de 22,2%, com participação de 13,4% e 9,5%, respectivamente, no balanço nacional no último ano.
As altas regionais devem ser analisadas com cautela. O número de pessoas na extrema pobreza em algumas regiões é relativamente pequeno. Por isso, pequenas altas absolutas podem representar uma grande alta porcentual.
Este é o caso das regiões Centro Oeste e Sul, que apresentaram o maior aumento entre as regiões, mas só representam 9,5% do total do país.
Veja o crescimento no total de brasileiros em pobreza extrema em cada região:
Nordeste | Norte | Sudeste | Centro Oeste | Sul | |
---|---|---|---|---|---|
2016 | 7,36 mi | 1,95 mi | 2,87 mi | 449 mil | 699 mil |
2017 | 8,15 mi | 1,99 mi | 3,27 mi | 557 mil | 847 mil |
Programas Sociais
As atuais políticas públicas, como o Bolsa Família, não são suficientes para tirar as pessoas da pobreza extrema.
”A renda das pessoas que sobrevivem apenas com o Bolsa Família não ultrapassa os 136 reais por mês para cada membro da família, critério utilizado para caracterizar a extrema pobreza no país”, afirmou Donato.
O economista diz que o Bolsa Família não é suficiente mas pode ajudar a romper o ciclo de pobreza. Ele cita a exigência do programa de matricular crianças e adolescentes na escola, garantindo que os filhos dos beneficiários continuem se escolarizando.
De acordo com a faixa etária, a maioria da população na extrema pobreza é adulta, com 33,7% entre 25 a 50 anos e 32% tem idade menor ou igual a 13 anos.
Menos de 13 anos | 13 a 17 anos | 17 a 25 anos | 25 a 50 anos | Mais de 50 anos | |
---|---|---|---|---|---|
2016 | 32,70% | 10,30% | 12,90% | 33,60% | 10,50% |
2017 | 32,00% | 9,40% | 13,50% | 33,70% | 11,30% |
Para os próximos anos, o número de pessoas em pobreza extrema deve ser estancado tanto pelo crescimento da economia quanto por novas políticas públicas, fatores que podem se retroalimentar positivamente.
“Com a recuperação econômica, novas políticas voltadas para a redução da extrema pobreza devem ser desenvolvidas de acordo com o orçamento do governo”, diz Cosmo.