EUA: ao contrario do que diz Trump, o governo e empresas da China não pagam tarifas diretamente (Artyom Ivanov / Contributor/Getty Images)
Reuters
Publicado em 19 de junho de 2019 às 16h12.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, diz que a China paga as tarifas que ele impôs sobre 250 bilhões de dólares de exportações chinesas aos EUA.
Mas não é assim que as tarifas funcionam. O governo chinês e empresas da China não pagam tarifas diretamente. Tarifas são impostos sobre importações. Elas são pagas por empresas registradas nos EUA à alfândega norte-americana pelos bens que estas empresas importam aos EUA.
Frequentemente, importadores repassam os custos das tarifas aos consumidores - fabricantes e clientes dos EUA - ao elevar seus preços.
Empresários e economistas norte-americanos dizem que os consumidores de seu país arcam com grande parte da conta através da elevação dos preços.
Larry Kudlow, assessor econômico da Casa Branca, reconheceu que "os dois lados sofrerão com isso", contradizendo o presidente.
O projeto de lei das tarifas deve ir além. Neste mês, Trump instruiu o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, a iniciar o processo de imposição de tarifas sobre os 300 bilhões de dólares restantes de bens chineses - o que inclui produtos que vão de celulares a chupetas de bebê.
Isso significaria que quase todas as importações da China seriam sujeitas a um imposto de importação de 25%.
Um número crescente de companhias dos EUA alertou para o impacto negativo das tarifas sobre os consumidores do país.
A Nike e 172 fabricantes de calçados exortaram Trump a retirar seus produtos de uma lista de importações sujeita a uma proposta tarifa adicional de 25%, alertando que a medida pode custar 7 bilhões de dólares adicionais aos consumidores por ano.
O Walmart, maior rede varejista do mundo, e a rede de lojas de departamentos Macy's avisaram que os preços aos compradores aumentarão devido às tarifas maiores sobre bens da China.
Trump, que chamou a si mesmo de "homem das tarifas", repetiu muitas vezes que a China paga as tarifas norte-americanas sobre seus produtos.
"Temos bilhões de dólares entrando em nosso Tesouro - bilhões - da China. Nunca tivemos 10 centavos entrando em nosso Tesouro; agora temos bilhões entrando", afirmou ele em 24 de janeiro.
No dia 5 de maio, ele tuitou: "Há 10 meses a China está pagando tarifas aos EUA".
Além de impor tarifas a bens chineses, Trump também aplicou um imposto sobre as importações globais de aço e alumínio e os carregamentos de máquinas de lavar e painéis solares.
A Agência de Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) recolhe impostos sobre as importações, normalmente exigindo que os importadores os paguem até 10 dias depois de suas cargas serem liberadas pela alfândega.
Washington disse ter coletado 23,7 bilhões de dólares em tarifas entre o início de 2018 e 1º de maio deste ano, segundo dados do CBP.
A renda total das tarifas - incluindo taxas já em vigor antes de Trump - subiu 89% no primeiro semestre do atual ano fiscal, iniciado em 1º de outubro, chegando a 34,7 bilhões de dólares, de acordo com dados do Tesouro.
Todo item importado para os EUA legalmente tem um código alfandegário. Os importadores devem verificar as tarifas e outros impostos e taxas devidos aos bens que trazem, calcular quanto devem e pagá-lo.
A Alfândega dos EUA analisa os pagamentos e envia uma nova conta aos importadores caso detecte um valor inferior.
Os importadores também têm que dar garantias de pagamento, ou títulos de importação, à alfândega. O custo destes títulos aumentou com as tarifas, um fardo adicional sobre as empresas radicadas nos EUA que importam bens da China.
Os fornecedores chineses de fato arcam com parte dos custos das tarifas norte-americanas indiretamente.
Às vezes, por exemplo, exportadores são forçados a oferecer um desconto a importadores dos EUA para ajudar a custear os gastos com taxas norte-americanas mais elevadas. Empresas chinesas também podem perder negócios se importadores dos EUA encontrarem outra fonte dos mesmos bens, e livres de tarifas, fora da China.
Tarifas à parte, a decisão do governo Trump de acrescentar a chinesa Huawei, a maior fabricante mundial de equipamentos de telecomunicação, a uma lista negra comercial atingiu duramente a companhia.
Mas importadores sediados nos EUA estão lidando com o fardo dos impostos maiores de várias maneiras que afetam empresas e consumidores de seu país mais do que atingem a China.
Estas estratégias incluem aceitar margens de lucro menores, cortar custos - inclusive salários e empregos para trabalhadores norte-americanos -, adiar qualquer possível aumento salarial e repassar os custos das tarifas elevando os preços para empresas e consumidores dos EUA.
A maioria dos importadores usa uma mistura de tais táticas para disseminar os custos maiores entre fornecedores e consumidores.
Já a China retaliou as tarifas de Washington impondo suas próprias tarifas sobre importações dos EUA, e o governo chinês também recolhe impostos de bens dos EUA de importadores chineses.