Torcedor do Brasil segura boneco do mascote fuleco durante partida no estádio de Brasília (REUTERS/Ueslei Marcelino)
João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de julho de 2014 às 13h13.
São Paulo - A Copa do Brasil terminou ontem com derrota argentina, tetra da Alemanha e muitos recordes e surpresas. Ainda leva um tempo para fechar o impacto econômico do evento - e a expectativa não era pequena - mas há números que já dão algumas pistas.
Na sexta-feira, a Prefeitura de São Paulo divulgou que até o dia 10, o evento trouxe quase meio milhão de turistas para a cidade - 299 mil brasileiros e 196 mil estrangeiros, que representaram um impacto econômico de R$ 1 bilhão.
A expectativa do governo brasileiro era que todo o período da Copa atraísse 600 mil visitantes estrangeiros para o país, mas esse número foi superado já na primeira fase.
692 mil desembarcaram por aqui em junho, mais que o dobro da média do mês e do número total da Copa de 2010. Veja da onde eles vieram, segundo a Polícia Federal:
Turistas em junho | Quantidade |
---|---|
Argentina | 101 mil |
Estados Unidos | 83 mil |
Chile | 44 mil |
Colômbia | 41 mil |
México | 34 mil |
Hotéis
Na primeira semana do evento, a ocupação média dos hotéis ficou em 80%, de acordo com o Fórum de Operadores Hoteleiro do Brasil (FOHB), acima da expectativa divulgada nos últimos meses.
Ate o dia 30, 450 mil diárias haviam sido negociadas. São Paulo teve o maior número de leitos adquiridos mas foi último lugar em ocupação (69%), enquanto o Rio de Janeiro liderou com 92% e um pico de 95% no dia de Espanha e Chile.
Cerveja e bares
Depois de cair em 2013 pela primeira desde 2010, a produção de cerveja no país levou um novo empurrão com a Copa.
O 1,04 bilhão de litros produzido entre janeiro e junho representa um crescimento de 11,6% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a CervBrasil.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes divulgou que o movimento nos bares cresce em média 70% nos dias de jogo do Brasil e que o setor deve ter receita de R$ 12 bilhões no mês do mundial.
É mais do que no mesmo período do ano passado, quando acontecia a Copa das Confederações e houve ganho entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões. Para os restaurantes, o efeito foi nulo ou até negativo.
Varejo
A produção de televisores também aumentou: entre janeiro e abril, o número de televisores de LED fabricados foi 65% maior em relação ao mesmo período do ano passado.
Com a ajuda de preços menores, as vendas aumentaram entre 30% e 40% nos últimos meses na comparação anual, mas os estoques são grandes e a liquidação já começou.
O comércio popular também ganhou, mas outras partes do varejo foram prejudicadas por feriados e pela distração dos consumidores.
As vendas no varejo em São Paulo caíram 12,9% em junho na comparação com maio e 0,75% em relação a junho do ano passado, segundo a ACSP. No Rio de Janeiro, a estimativa do Clube dos Diretores Lojistas (CDLRio) é a de que as perdas cheguem a R$ 1,9 bilhão.
O varejo de moda também reclamou, mas em alguns setores é difícil isolar o efeito Copa da desaceleração mais ampla e da deterioração de expectativas por que passa a economia brasileira.
Inflação
A Copa também mexeu com a inflação. Em junho, altas nas passagens aéreas e nas diárias de hotéis foram responsáveis por metade do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA).
O acumulado de 12 meses, influenciado por fortes altas no final do ano passado, chegou a bater o teto da meta de 6,5%.
Legado
O fato do evento ter ocorrido sem maiores contratempos e a melhora na infraestrutura de recebimento também podem favorecer a imagem do país e aumentar o fluxo de turistas no longo prazo.
98,3% dos estrangeiros que visitaram o Rio de Janeiro disseram que recomendarão a cidade para seus parentes e amigos, de acordo com uma pesquisa divulgada pela Prefeitura.
Outro beneficiado pode ser o próprio futebol brasileiro, que tem um potencial econômico pouco explorado e terá à sua disposição uma infraestrutura muito melhor a partir de agora:
“Eles terão ótimos estádios, novos e seguros, que vão atrair mais pessoas. Há evidência de que depois das Copas e do campeonato europeu, há um aumento na frequência e lotação nas ligas de futebol, e tenho certeza que isso vai acontecer aí”, diz Simon Kuper, autor de "Soccernomics".
O esporte como um todo é responsável por cerca de 1,6% do PIB brasileiro e tem crescido a taxas mais rápidas do que o resto da economia.
Já o impacto do legado de infraestrutura é incerto e difícil de mensurar. Foram feitas menos obras do que o previsto (e com custo maior), mas de uma forma ou de outra, estes investimentos vinham de muitos anos e seu efeito já estava absorvido antes do Mundial.