Roberto Campos Neto: queda dos juros no Brasil está atrelada à política fiscal (Gustavo Minas/Bloomberg via/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 14 de novembro de 2024 às 19h00.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que uma redução estrutural da taxa básica de juros no Brasil depende de “choques positivos” na política fiscal. Ele ressaltou que sem uma organização sólida das contas públicas, o país dificilmente alcançará juros “mais baixos e estáveis”.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano. Na ata divulgada nesta terça-feira, o colegiado destacou o “desconforto” com a distância das expectativas de inflação em relação à meta de 3,0%.
Em participação no 12º Fórum Liberdade e Democracia de Vitória, organizado pelo Instituto Líderes do Amanhã, Campos Neto destacou que a maioria dos países já está em processo de convergência da inflação. No entanto, o Brasil, entre as grandes economias, ainda é visto pelo mercado financeiro como uma exceção, sendo necessário um ajuste forte nos juros.
“O Brasil é o único nessa situação entre os grandes países e precisamos entender e resolver isso, pois é muito importante”, afirmou Campos Neto. Ele acrescentou que o mandato do Banco Central é, justamente, garantir a convergência da inflação para a meta estipulada pelo governo.
O presidente do BC ressaltou que a manutenção de juros baixos no Brasil sempre esteve associada a choques fiscais positivos, como a implementação do teto de gastos em 2017. Ele observou que, desde a mudança da meta fiscal, o mercado passou a aplicar um prêmio de risco maior, refletindo a desconfiança na capacidade do governo de cumprir metas fiscais. “É muito difícil ter juros estruturalmente baixos se o fiscal não estiver organizado”, pontuou.
No cenário internacional, Campos Neto observou que a possível volta de Donald Trump à presidência dos EUA pode gerar incertezas inflacionárias, em virtude de sua política fiscal e de medidas protecionistas. Ele observou que o fortalecimento do dólar tende a afetar mercados emergentes, mas acredita que o Brasil será menos impactado.
Mais tarde, no 12º Annual Summit do Valor Capital Group, Campos Neto também expressou preocupações com a nova política comercial dos EUA e seus efeitos, especialmente para a China, em função da transição do país para um modelo orientado à exportação de produtos de maior valor agregado. Ele acredita que o aumento do protecionismo pode impactar o crescimento chinês.