Alimentação: o efeito do clima e da colheita não foi o único a permitir declínio no IPC (Thinkstock/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de junho de 2017 às 16h07.
Última atualização em 2 de junho de 2017 às 16h09.
São Paulo - A queda de 0,21% em alimentação em maio surpreendeu André Chagas, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que previa alta de 0,05% para o grupo.
Segundo ele, o recuo foi o principal responsável pela deflação de 0,05% no IPC do quinto mês do ano, que foi a primeira queda para maio desde 2006 (-0,22%).
"Não esperávamos uma deflação dessa magnitude em Alimentação. Por isso, tampouco esperava queda para o IPC. As condições climáticas favoráveis e a safra recorde de grãos estão permitindo preços mais baixos para alimentos", afirma.
Para o IPC, Chagas estimativa alta de 0,04%.
O efeito do clima e da colheita não foi o único a permitir declínio no IPC de maio. O economista reafirmou que a recessão segue limitando o poder de compra dos consumidores.
"Esse desempenho não reflete somente esses impactos nem só dos efeitos da queda de juros, mas a falta de demanda. Neste momento, a deflação não é uma boa noticia, pois grande parte reflete a recessão", avalia.
A expectativa é que o IPC continue baixo em junho, mas não a ponto de ter nova deflação. A previsão de Chagas é de alta de 0,27% para o dado fechado no sexto mês do ano, com o acumulado em 12 meses indo a 2,70%.
Para o fim do ano, o coordenador revisou a projeção para o IPC de 4,26% para 3,77%.
Ao contrário dos demais IPCs, na Fipe a devolução altista dos descontos concedidos em abril devido à cobrança indevida relacionadas à usina de Angra 3 será sentida em junho, de forma a elevar o IPC.
Além disso, também em razão de diferença metodológica, o impacto da mudança de bandeira vermelha patamar 1 (com custo elevado) para a cor verde (sem custo) nas contas de luz só será sentido em julho, com alívio estimado de 0,12 ponto porcentual no IPC.
"O fim desse desconto de Angra 3 vai significar uma alta de 1,01% no grupo Habitação, por causa de energia elétrica. Essa previsão, por sua vez, terá impacto de 0,31 ponto porcentual no IPC. O índice até poderia cair, não fosse energia elétrica", admite.
Se a alta para o grupo Habitação for confirmada, inverterá a queda de 0,36% registrada em maio.
Ao contrário de Habitação, a Fipe estima novo declínio, de 0,19%, para o grupo alimentação no fim do mês, depois da retração de 0,21% em maio.
Chagas diz que muitos itens alimentícios que cederam no quinto mês deste ano devem continuar trazendo alívio ao IPC.
Com exceção de industrializados, cuja taxa passou de 0,33% para 0,26% no fim de maio, os demais segmentos ajudaram a abrandar o grupo alimentação com mais força.
Os semielaborados tiveram alta de 0,09%, na comparação com 0,75% na terceira quadrissemana de maio, enquanto os in natura atingiram recuo de 2,14% em relação à baixa de 0,87% na terceira leitura.
"Excluindo tubérculos, que subiram 8,02% mas já diminuíram a alta ante 15,06%, todos os alimentos in natura tiveram queda de preços", afirma.
De acordo com a Fipe, as verduras ficaram 3,96% mais baratas na quarta leitura de maio em relação à terceira (de -3,08%); as frutas tiveram variação negativa de 3,75% (de -3,46%); legumes apresentaram declínio de 4,96% (de -5,17%); e ovos registraram recuo de 1,71% (de -0,64%).
Já alimentação fora do domicílio desacelerou o ritmo de alta para 0,28% no fim de maio, depois de 0,46% na terceira quadrissemana.