Economia

Queda de juros esbarra em dívida pública, diz Gustavo Franco

Para o ex-presidente do Banco Central, depois da poupança, a dívida pública pode ser um novo entrave à queda de juros

Há uma conexão entre reduzir juros e uma situação fiscal melhor, segundo Gustavo Franco (.)

Há uma conexão entre reduzir juros e uma situação fiscal melhor, segundo Gustavo Franco (.)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de novembro de 2013 às 15h23.

São Paulo – A dívida pública é um grande entrave para a redução de juros atualmente, segundo Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gestora Rio Bravo. 

“O Brasil rola entre 18% e 15% do PIB por ano em dívida pública, que é a mesma rolagem feita por países europeus com problemas. Nós não temos problemas. Não temos por que há um mercado de dívida pública, fundos de mercado, resquício do antigo overnight”, afirmou em evento realizado pela revista EXAME e pela FGV em São Paulo.

Com juros menores, os papéis do governo ficam menos interessantes e os investidores têm mais motivos para migrar para outros lugares, como o mercado de capitais, abandonando os papéis que ajudam a financiar a dívida. “Por isso há uma conexão entre reduzir juros e uma situação fiscal melhor”, disse Franco. Para reduzir as taxas sem aumentar o peso da dívida, é necessário gastar menos. “É só o Tesouro ter mais caixa, gastar menos, assinar menos cheques”, disse. 

O Brasil está chegando a uma espécie de momento da verdade no qual será possível ver que as reais limitações da queda de juros tem a ver com o superávit primário, segundo Franco. “A poupança, tão difícil de mexer, é um pequeno aspecto desse problema”, disse.

Para Franco antes de o primeiro mundo enfrentar a crise atual, o Brasil tinha finanças públicas ruins, mas agora que a situação por lá piorou parece que aqui está tudo bem. “Não está. Não é porque lá degringolou que agora aqui está bem”, disse Franco. “Temos que ter inflação de primeiro mundo para ter dívida pública de primeiro mundo e juros de primeiro mundo. As finanças públicas estão para merecer uma recauchutagem”, disse. 

Franco espera que, para resolver o problema dos juros no Brasil, não sejam necessárias tantas tentativas como foram para resolver a inflação elevada da década de 80/90. “Pode ser uma espécie de Plano Real, mas o Plano Real foi a oitava tentativa para resolver o problema da inflação, vamos ver se teremos oito tentativas para os juros também”, disse. 

Spread

Franco tem uma visão crítica a respeito da pressão do governo sobre os spreads bancários. “Acho que é um grande tiro n’água e certa perda de tempo das autoridades”, afirmou. “As estimativas que ouvimos sobre o spread são pedaços de ativos e passivos dos bancos e que não querem dizer nada”, disse.

Acompanhe tudo sobre:CréditoCrescimento econômicoCrise econômicaDesenvolvimento econômicoEmpresasFGV - Fundação Getúlio VargasFinanciamento de grandes empresasRevista EXAME

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo