Confederação Nacional do Comércio acredita que essa taxa de câmbio não vai persistir por muito tempo (Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2012 às 09h55.
São Paulo – Desde o começo de julho, o valor do dólar não sai da estreita faixa entre 2 reais e 2,10 reais. O Ministério da Fazenda já fez intervenções para a moeda brasileira não se valorizar e anunciou que o governo interviria novamente, “se necessário”. Essas ações, no entanto, não significam que o Brasil tenha um câmbio fixo.
Mesmo que a observação estatística da taxa de câmbio nos últimos tempos mostre que ela não vai muito abaixo de dois, não se pode dizer que o governo estabeleceu um patamar de quando vai intervir, tampouco qual é a cotação alvo, segundo o economista Gilberto Braga, do Ibmec. “É o padrão atual (taxa que não fica abaixo de 2 reais), mas pode mudar sem aviso”, disse. Pelos cálculos do Banco Central, entre o final de agosto de 2011 até o início de setembro de 2012, a depreciação do câmbio nominal foi algo entre 25% e 30%.
Em 2010 e 2011, a taxa de câmbio brasileira estava bem acima do equilíbrio, segundo o coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada na EESP-FGV, Emerson Fernandes Marçal. “Teria que se desvalorizar relativamente em torno de 15% ou 20%. Mas, em 2012, a taxa de câmbio no Brasil está se desvalorizando. Se nada mais mudou, provavelmente o desequilíbrio diminuiu”, afirmou.
No mês passado, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou que a taxa de câmbio atual (2,03 reais, na data e também nesta segunda-feira, 1º de outubro) era, historicamente, uma taxa muito apreciada, por isso que o governo atuava no mercado de câmbio e iria atuar “sempre que necessário”. Segundo Barbosa, com o cenário atual, essa taxa tem o mesmo impacto que o dólar em 1,6 reais tinha em 2008.
“O governo está mantendo a taxa de câmbio nominal fixa mas, nos termos reais, está apreciado”, disse Camargo. Segundo o professor, os salários estão crescendo acima da produtividade e os custos de produção no Brasil crescem mais que no exterior. “O risco disso é tentar manter o câmbio real parado e gerar inflação constante”, afirmou.
A Confederação Nacional do Comércio acredita que essa taxa de câmbio não vai persistir por muito tempo – e que o dólar pode subir. “Em um movimento global de aversão a risco, o Banco Central não tem como segurar o câmbio, a menos que o governo mude o sistema para câmbio fixo, o que não vejo acontecendo”, disse João Felipe Santoro Araujo, economista da Confederação Nacional do Comércio
Inflação
Utilizar o câmbio para estimular a competitividade da indústria funciona somente no curto prazo, segundo José Márcio Camargo, professor de economia da PUC-Rio. “Para fazer a indústria permanecer competitiva, seria preciso continuar desvalorizando. Seria perigoso para a inflação”, disse.
Na apresentação do relatório de inflação, na semana passada, Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica do BC, afirmou que a desvalorização do real, que vem ocorrendo desde agosto de 2011, exerceu algum impacto sobre a inflação.
No Brasil, a confecção de muitos produtos utiliza insumos importados, logo, o dólar valorizado leva ao aumento de preço do produto final, gerando inflação. “Hoje, boa parte do funcionamento da economia brasileira, para ter inflação menor e PIB maior, depende muito da situação internacional”, disse Braga.
Para Camargo, o Brasil, historicamente, é um país relativamente protecionista, não é algo do governo atual. “É um problema da economia brasileira”, afirmou. Em seu discurso na ONU, na semana passada, a presidente Dilma disse que o Brasil não pode aceitar que iniciativas de defesa comercial de países emergentes sejam classificadas como protecionismo.