Em tese, essas classificações refletem a saúde econômica dos países (AFP/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 25 de maio de 2023 às 11h36.
Uma eventual perda da classificação AAA ("triple A") por parte dos Estados Unidos, após a advertência feita na quarta-feira, 24, pela agência de classificação de risco Fitch, seria sobretudo simbólica, em meio à possibilidade de um default no país.
Ainda assim, essa degradação não seria inédita, e suas consequências para a maior economia do mundo poderiam ser limitadas, já que sua dívida é, hoje, muito cobiçada nos mercados.
O AAA, ou triplo A, é a melhor nota que uma agência de classificação pode atribuir para avaliar a capacidade de um Estado, coletividade, ou empresa, de pagar sua dívida.
As três principais agências do mundo — S&P Global, Fitch e Moody's — utilizam um sistema de rating materializado na forma de letras que variam de AAA (a melhor nota possível) a C, ou D, quando há inadimplência.
Em tese, essas classificações refletem a saúde econômica desses atores. Para classificar um país, por exemplo, as agências avaliam crescimento, dívida, déficit, gastos, arrecadação de impostos, entre outros critérios. Com base nisso, estabelecem um diagnóstico que orienta os financiadores na hora de investir.
Consequentemente, quanto mais baixa for a nota, mais os investidores tendem a exigir uma taxa de juro elevada quando emprestam dinheiro para um Estado, ou para uma empresa, já que sua dívida será considerada mais arriscada.
Apenas um número reduzido de países tem a melhor pontuação possível nas três grandes agências: Austrália, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Suécia, Noruega, Singapura, Suíça e Luxemburgo.
Outros têm AAA em uma, ou duas, das três agências, como Estados Unidos, Canadá e União Europeia.
Na Europa, vários países, como a França, foram privados da classificação máxima nas três principais agências após a crise financeira global de 2008.
Ainda assim, após perder seu AAA em 2012-2013, a França “não perdeu investidores” em sua dívida, lembra Anne-Laure Kiechel, fundadora e CEO da consultoria Global Sovereign Advisory, especializada na estratégia econômica dos Estados.
A perda do triplo A é simbólica pelo sinal que envia aos mercados. Na prática, se os Estados Unidos fossem rebaixados em um grau, sua classificação ainda seria muito favorável (AA+). A dívida americana continua a gerar uma enorme confiança e se mantém como um investimento incontornável da poupança global.
“O dólar é a moeda de reserva mundial”, recordou a Fitch em suas conclusões de quarta-feira (24), sugerindo que os Estados Unidos continuarão a encontrar compradores para sua dívida sem grandes problemas, embora as taxas de juro possam subir ligeiramente.
Em 2013, essa agência já havia colocado os Estados Unidos sob uma "perspectiva negativa", indicando, assim, que não descartava baixar sua nota. Mas, no final, acabou não fazendo isso.
A Fitch, que classifica os Estados Unidos desde 1994, e a Moody's, que o faz desde 1949, nunca rebaixaram sua nota.
Em 2011, no entanto, os Estados Unidos já haviam perdido sua apreciada classificação AAA da agência S&P Global, de modo que o alcance de uma degradação por parte da Fitch seria limitado.
Diante do risco de degradação, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, considerou, ontem, que se trata de "uma crise fabricada". Nesse sentido, criticou a recusa dos conservadores no Congresso a votarem o aumento do limite da dívida do país, essencial para evitar uma moratória.