Um menino joga bola na favela de Varjão, em Brasília (REUTERS/Ueslei Marcelino)
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de junho de 2014 às 12h48.
São Paulo – O Brasil está em pleno clima de Copa do Mundo, e a promessa é de que o evento será um reforço não só na auto-estima do país mas também na economia.
Com as projeções de crescimento em perpétuo declínio e a criação de vagas decepcionando, é inevitável ver os números com uma boa dose de ceticismo, mas é fato que a indústria do esporte, pelo menos, está vivendo uma nova era no país.
De acordo com a Pluri Consultoria, o PIB do esporte no país cresceu a taxas anuais de 7,1% entre 2007 e 2011, muito acima dos 4,2% da economia como um todo.
Eles estimam que o esporte respondia em 2012 por 1,6% do PIB do país – o equivalente a R$ 67 bilhões – e a expectativa é que essa taxa chegue a 1,9% até 2016, o ano das Olimpíadas.
Esse número inclui desde roupas, equipamentos e locais necessários para as práticas até serviços que dependem do esporte para sobreviver, como treinamento, apostas e transmissões.
Na União Europeia, o esporte já é mais importante para a economia do que a agricultura, respondendo por algo entre 1,13% e 1,76% do PIB, dependendo da definição.
O cenário varia muito de país para país. Na Áustria, a participação no PIB está entre 2% e 4%, enquanto a Alemanha é a campeã no mercado de trabalho, com um em cada quatro empregados do setor na UE, o equivalente a 1,1 milhão de postos.
O futebol brasileiro
Apesar de mundialmente reconhecido, o futebol brasileiro tem um histórico de gestão pouco profissionalizada e clubes em situação de eterna crise financeira. O resultado acabou sendo um potencial econômico nunca realizado.
Os quase 4 mil jogos da temporada 2013 do futebol brasileiro tiveram ocupação média de 26% e arrecadação total de R$ 475 milhões. Nos EUA, bastam 15 jogos do Superbowl para chegar ao mesmo valor.
Há sinais de mudanças: a receita dos clubes quadriplicou desde 2004 e metade dos clubes da primeira divisão deu lucro em 2012, o que nunca havia acontecido.
Uma das grandes responsáveis por isso é a televisão. Ao contrário de outros tipos de programa, jogos de futebol precisam ser vistos ao vivo e não enfrentam concorrência da internet, o que os torna um dos poucos refúgios garantidos para anunciantes.
Em 2012, a Globo estava ameaçada de perder a transmissão do campeonato brasileiro para a Record e assinou um novo contrato com os principais times. De um ano para o outro, a cota de TV subiu 50%. E agora, a Copa pode ser o empurrão que faltava.
Em entrevista a EXAME.com, o inglês Simon Kuper, autor do livro “Soccernomics”, foi implacável em suas críticas ao evento, mas admite que se alguém será beneficiado, estes serão os clubes:
“Eles terão ótimos estádios, novos e seguros, que vão atrair mais pessoas. Há evidência de que depois das Copas e do campeonato europeu, há um aumento na frequência e lotação nas ligas de futebol, e tenho certeza que isso vai acontecer aí”.
Com novas estruturas, mais frequência e melhor gestão, o esporte tem tudo para ficar ainda mais importante na economia brasileira. Para o único país que já venceu cinco Copas (até agora), nada mais natural.