Christopher Garman, Zeina Latif , Ana Carla Abrão e Ricardo Sennes (Oliver Wyman/Montagem/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 24 de outubro de 2019 às 11h42.
Última atualização em 24 de outubro de 2019 às 12h37.
São Paulo - Com a reforma da Previdência aprovada em segundo turno no Senado, o Brasil supera (pelo menos por enquanto) um debate de anos, e se pergunta: o que vem em seguida?
O governo federal promete para o próximo dia 29 a apresentação de pacotes para revisão da regra de ouro, de gastos obrigatórios e do pacto federativo, e também fala em uma ampla reforma administrativa para mexer no "RH" do governo.
Câmara e Senado vem encaminhando propostas de reformas tributárias, e uma terceira, do governo, está sendo prometida há meses.
A agenda, e sua capacidade de avanço, foram avaliadas por economistas e analistas políticos em painéis na manhã desta quinta-feira (24) no Brazil Summit, evento realizado pela revista britânica The Economist em São Paulo.
Ricardo Sennes, da consultoria Prospectiva, vê a aprovação da Previdência como a conclusão do primeiro ciclo do governo Bolsonaro e avalia que o próximo ciclo vem com um aspecto positivo, de maior articulação política com Luis Eduardo Ramos na Secretaria de Governo, e outro negativo, com Bolsonaro se isolando cada vez mais - agora até do próprio partido.
O risco é de que isso leve o presidente a focar em pautas não econômicas, como as ligadas a costumes, levando a uma paralisia decisória.
"A janela para grandes reformas está se fechando", diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. "A gente gosta de reforma desde que seja dos outros", brinca, notando que setores afetados podem fazer as suas contas, notar que vão perder benefícios ou ter alta de carga tributária e concluírem que vão lutar contra a reforma.
Por isso, é importante que se coloque o peso do governo por trás. "A agenda está na direção correta, mas falta estratégia", diz ela, notando a importância que foi o governo anterior, de Michel Temer, colocar todo seu peso político no debate da reforma da Previdência, que foi vencendo resistências.
Ela diz que não basta o ministro da Economia, Paulo Guedes, ser reformista; é importante que Casa Civil e outras instâncias também sejam.
Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman, concorda: agenda e diálogo têm que partir do Executivo. Ela é otimista que o estímulo monetário dos juros historicamente baixos terá efeitos relevantes sobre o nível de crescimento, e diz que a economia foi tão desorganizada em governos anteriores que hoje só o fato de reorganizar já é um fator positivo.
Christopher Garman, diretor para as Américas da consultoria Eurasia, nota que o Congresso é muito sensível à opinião pública. Se o crescimento vier menor do que o projetado, começa a mudar o cálculo de sobrevivência política, que no momento é reformista.
Sennes nota que a reforma tributária não apareceu em nenhum discurso do presidente Bolsonaro até agora e considera que a chance de uma reforma ampla é muito baixa.
Ele destaca também que além da eleição municipal, também acaba no final de 2020 o mandato de Rodrigo Maia, o grande fiador das reformas no Legislativo, na Presidência da Câmara dos Deputados.
Arthur Carvalho, economista-chefe para América Latina do Morgan Stanley, acredita que a solução é o governo focar nas reformas que "dá para fazer", como a independência formal do Banco Central e revisão dos gastos obrigatórios. Zeina considera correta a ideia de "fatiar" as reformas em pedaços menores ao invés de querer passar textos abrangentes.
Já Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde Asset Managemen, é mais otimista com base na experiência do governo Temer, que surpreendeu pela capacidade reformista mesmo em cenário de baixa aprovação popular.