Banco Central: ex-dirigentes afirmaram que o governo terá dificuldades com a meta fiscal mesmo aprovando a reforma da Previdência (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 25 de agosto de 2017 às 12h46.
Campos do Jordão - Ainda que seja aprovado neste ano, o projeto de reforma da Previdência terá que ser sucedido por outras medidas bastante agudas para reverter a trajetória de crescimento da dívida pública, disseram ex-autoridades do Banco Central nesta sexta-feira.
Para Gustavo Franco, ex-presidente do BC, e Eduardo Loyo e Afonso Bevilaqua, ex-diretores, a elevação dos déficits primários esperados para os próximos anos evidenciou que a economia brasileira tem dificuldades maiores do que as imaginadas até pouco tempo atrás e que a obediência ao teto de gastos vai exigir agenda de cortes de gastos mais prolongada.
Para Franco, agora estrategista-chefe da Rio Bravo Investimentos, a flexibilização da estabilidade do funcionalismo público, especialmente nos Estados, e a saída do governo de alguns projetos vistos como estratégicos, como o submarino nuclear, devem ser considerados.
"A reforma da Previdência não é bala de prata", disse ele durante o 8º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais. "Vai ter que criar algumas válvulas de escape para redução da rigidez orçamentária, principalmente nos Estados".
Segundo Loyo, a recente piora nas projeções de déficits primários para este ano e o próximo mostrou que o quadro é pior do que se imaginava há alguns meses e que isso vai exigir uma reação à altura do governo.
"A sensação é de que a dificuldade fiscal recrudesceu", disse Loyo, ex-diretor de Estudos Especiais do BC e hoje economista-chefe do BTG Pactual.
Nas contas de Bevilaqua, ex-diretor de Política Econômica da autoridade monetária, esse esforço fiscal mais intenso poderá ter que ser estendido aos próximos dois governos, dado que mesmo num cenário positivo o orçamento terá que ser ajustado ao teto de gastos nos próximos 10 anos, mesmo com a reforma da Previdência.
"É uma tarefa extremamente desafiadora", disse Bevilaqua, para quem o cenário naturalmente piora se a reforma previdenciária não vier em 2017. Um atraso de dois anos nesse plano faria o Brasil desperdiçar uma economia equivalente a 3 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos 10 anos.
Para Franco, a dificuldade maior de se aprovar a reforma previdenciária no atual cenário está deixando claro que o governo do presidente Michel Temer errou ao primeiro se concentrar na definição de um teto de gastos, depois a reforma trabalhista, mais fáceis de aprovar.
"Deveria ter ido para a Previdência primeiro. A energia de que um governo tem para fazer reformas é finita e ela está faltando agora", disse Franco.
As declarações dos economistas vão na contramão do movimento recente do mercado financeiro, com o principal índice da bolsa brasileira atingindo o pico em mais de seis anos, na esteira de anúncios de privatizações e expectativa de aprovação de novas reformas.
Para Loyo e Franco, dado o quadro de acirrada confrontação política que deve se prolongar até as eleições presidenciais do ano que vem, pode ser cedo para acreditar que o compromisso com o ciclo de reformas vai continuar.
"Não há nenhuma garantia de que haverá bom senso em 2019", disse Franco.
Já Loyo avaliou que a percepção de urgência do que precisa ser feito parece consenso no sistema financeiro, mas isso pode não se refletir no campo político. "Não dá pra acreditar na clarividência de que as autoridades vão resolver as coisas de forma sistemática e organizada antes que o caldo entorne".