Investidores estão na expectativas pelas questões fiscais, como reforma da previdência (Mario Tama/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de janeiro de 2019 às 16h38.
Davos - Após o humor despencar em 2017 em relação ao Brasil e mostrar alguma recuperação no ano passado, executivos melhoraram suas percepções em relação à retomada econômica do País nos próximos 12 meses, conforme uma pesquisa da PwC divulgada nesta segunda-feira, 21, em Davos, na véspera da abertura oficial do Fórum Econômico Mundial de 2019. Na 22ª Pesquisa Global com os CEOs da PwC, 43% dos entrevistados brasileiros projetaram crescimento de suas empresas em 2019. O otimismo dos profissionais domésticos supera a média global e é maior do que os 39% registrados um ano antes.
A melhora, no entanto, está muito longe de ser empolgante. No levantamento geral, realizado com 1.378 CEOs de 91 países dos cinco continentes, de setembro a outubro passado, o Brasil é apontado como o sexto destino potencial para novos investimentos no curto prazo. A sondagem identificou que, em um momento de muitas incertezas globais, os profissionais estão preferindo focar as atividades - e o dinheiro - em seus próprios países.
Os entrevistados foram solicitados a identificar os três mercados mais atraentes para investimento fora de seu território, e, em meio a essas incertezas dos últimos meses, uma fatia nada desprezível, de 15%, respondeu "não saber" - no levantamento anterior era uma parcela de apenas 8%. Esse não comprometimento dos líderes ficou na terceira posição, atrás de Estados Unidos (27%) e China (24%). Apesar de as duas maiores potências econômicas do globo ainda atraírem a atenção de investidores, sentiram o baque da diminuição do interesse, uma vez que, no ano passado, tinham fatias de, respectivamente, 46% e 33%.
Na terceira posição entre os países está a Alemanha, que passou de 20% para 13%, e, na quinta, a Índia, de 9% para 8%. Antes de qualquer outro país, figurou "nenhum outro território", que disparou de 1% para 8% de 2018 para 2019, revelando que esses CEOs não conseguiram nomear três países separadamente além do lugar onde atuam. "Dado o nível de incerteza em torno das questões comerciais e políticas, não é de surpreender que os CEOs estejam se concentrando em casa", observou a PwC, acrescentando que os governos podem ver isso como uma oportunidade para lembrar às empresas que seus países estão abertos para negócios.
O Reino Unido, por sua vez, passou de 15% para 8% e o Brasil, de 7% para 6%, exatamente como ocorreu com a França. "Apesar da retração econômica dos últimos anos, a pesquisa mostra que o Brasil segue em destaque no cenário global: o País ocupa o sexto lugar entre os mais citados pelos CEOs globais como possíveis focos de investimentos ao longo de 2019, atrás de EUA, China, Alemanha, Índia e Reino Unido", considerou a PwC.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, chega ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, no primeiro mês de seu mandato, para usar o evento como uma vitrine para o novo governo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, terá a partir de terça-feira uma série de encontros com investidores e empresários. Basicamente, o Brasil está aberto a receber recursos estrangeiros. Muitos investidores de fora, no entanto, dizem estar prestes a definir o País como destino de seus recursos, mas querem ter a certeza, antes, de que haverá um compromisso com a questão fiscal, que, neste momento, se traduz como o ponto mais urgente a reforma da Previdência.
A pesquisa da PwC mostra que a média global de executivos que espera aumentar o faturamento de suas empresas nos próximos 12 meses é de 35%. Por outro lado, quando perguntados sobre a expectativa para os próximos três anos, 48% dos CEOs brasileiros acreditam que suas companhias devem crescer, ante 54% na pesquisa anterior.
Para confirmar o aumento no faturamento de suas empresas, cerca de 91% dos CEOs brasileiros esperam ter crescimento orgânico em 2019, enquanto 89% buscarão aprimorar a eficiência operacional, 76% devem lançar novos produtos e serviços e 57% visam trabalhos conjuntos com empreendedores e startups. As alianças e possíveis joint ventures estão nos planos de 52% dos líderes brasileiros nos próximos 12 meses e outros 39% devem participar de processos de fusões e aquisições.
Entre as principais preocupações dos líderes locais para o próximo ano, destaque para o crescimento da carga tributária (mencionada por 96%), seguida do excesso de regulação (93%). Fatores políticos seguem como motivo de preocupação: incertezas como o cenário da política nacional foram citadas por 91%, enquanto a instabilidade social representou 89% e o populismo, outros 85%.
"A retomada do crescimento econômico brasileiro dá sinais de avanços. A pesquisa mostra que o País não saiu do radar internacional para fins de investimentos. O momento exige esforços das empresas para focar processos disruptivos que mantenham suas organizações em destaque aos olhos do mundo", afirmou o sócio-presidente da PwC Brasil, Fernando Alves.
Ainda sobre o contexto atual de tensões no globo, o levantamento revelou que a maior ameaça para as companhias é a incerteza política nos países de atuação, fator citado por 78% dos CEOs, seguida pelas incertezas geopolíticas (75%), excesso de regulação e instabilidade no crescimento global (ambos com 73%), conflitos comerciais (70%), protecionismo (68%), volatilidade do câmbio (66%) e crescimento da carga tributária nos países de atuação (62%).