Prejuízo ao agronegócio brasileiro em decorrência dos protestos de caminhoneiros é "enorme" e o setor, disseram representantes (valio84sl/Thinkstock)
Reuters
Publicado em 28 de maio de 2018 às 14h24.
Última atualização em 28 de maio de 2018 às 14h24.
São Paulo - O prejuízo ao agronegócio brasileiro em decorrência dos protestos de caminhoneiros é "enorme" e o setor, que já contabiliza perdas na exportação e mortandade de animais, pode fechar 2018 sem atingir as previsões de comércio exterior, disseram representantes nesta segunda-feira.
As manifestações dos caminhoneiros estão em seu oitavo dia, provocando desabastecimento em praticamente todo o país, mesmo após o presidente Michel Temer ceder nas reivindicações da categoria.
"Isso preocupa muito. Está se criando um problema para a sociedade brasileira... Ainda não temos números, mas a perda para o agronegócio, certamente, é enorme", disse à Reuters o diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Cornacchioni.
O agronegócio responde por mais de um quinto do PIB brasileiro, garantindo ainda o superávit comercial do país, com exportações em 2017 da ordem de 96 bilhões de dólares, segundo dados do governo.
Ao lado de outras lideranças, Cornacchioni participou de uma entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira sobre os impactos dos protestos e também sobre a medida provisória (MP) de tabelamento de fretes, anunciada na véspera por Temer.
Para o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sergio Mendes, os reflexos sobre os embarques de grãos e derivados já são observados e devem se refletir no desempenho de 2018 como um todo.
"Podemos fechar o ano sem atingir as nossas previsões após uma semana de protestos", alertou ele.
Só com relação à soja, cuja safra recorde acabou de ser colhida, a expectativa é de vendas superiores a 70 milhões de toneladas neste ano.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, frisou que "a produção de farelo e biodiesel do Brasil está parada" em decorrência da greve dos caminhoneiros.
Sem caminhões para levar soja até as unidades processadoras ou para retirar os produtos, as plantas estão com as atividades suspensas, explicou.
Isso também tem impactado a produção de rações.
"O Brasil está em colapso no setor de rações neste momento... A mortandade de animais já começou", disse o presidente do Sindirações, Roberto Betancourt.
Outro setor que também contabiliza prejuízos é o de café, em meio a bloqueios no porto de Santos, principal rota de escoamento do Brasil, o maior exportador mundial da commodity. Nesta segunda-feira, os acessos ao terminal seguem bloqueados, segundo a Ecorodovias.
"Certamente as exportações de maio serão menores que as de abril", disse o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Nelson Carvalhaes. "A credibilidade do Brasil como exportador foi afetada."
Os embarques de café verde do Brasil no mês passado totalizaram 1,98 milhão de sacas.
Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, que reúne exportadores de suco de laranja, destacou que a situação dos estoques nos terminais "está no limite" e que as exportações do Brasil, o maior exportador mundial, poderão ser prejudicadas nos próximos dias caso as manifestações não cessem.
"A produção de suco de laranja está parada desde a semana passada devido aos protestos... Todo o fluxo de suco para os portos foi interrompido", afirmou ele.