Economia

Prostitutas da Venezuela lucram mais com dólar que com sexo

Prostitutas mais que duplicam seus ganhos fazendo um bico como operadoras de câmbio em Puerto Cabello

Prostituta no quarto de um bordel na cidade de Puerto Cabello, Venezuela (Vladimir Marcano/Bloomberg)

Prostituta no quarto de um bordel na cidade de Puerto Cabello, Venezuela (Vladimir Marcano/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2014 às 17h28.

Caracas - A chegada de um cargueiro de bandeira liberiana e marinheiros ucranianos, árabes e filipinos significa uma coisa para Elena: dólares. E na Venezuela as notas verdes mandam, diz a prostituta de 32 anos de idade.

Poucas horas depois de escutar sobre a iminente chegada do navio, ela fez as malas e está a caminho da cidade em ruínas de Puerto Cabello.

É uma viagem de 450 quilômetros de sua casa, no estado de Zulia, no oeste, que Elena tem feito mais frequentemente agora que a economia da Venezuela está encolhendo, o bolívar está em queda e os preços, em disparada.

As prostitutas mais que duplicam seus ganhos fazendo um bico como operadoras de câmbio em Puerto Cabello. Elas são o balcão de troca de moedas para marinheiros em um país onde comprar e vender dólares nas ruas é crime -- e a prostituição não.

No mercado negro, os dólares valem 11 vezes mais que pela taxa oficial, pois se tornaram mais escassos em uma economia que importa 70 por cento dos produtos que consome.

“O dólar é rei nesses dias, mas possuí-los tem um preço”, disse Elena, que usa um pseudônimo para proteger sua identidade, em um quarto que ela aluga em um bordel de Puerto Cabello no fim do mês passado.

“Sim, nós conseguimos dólares para pagar as coisas que nossas famílias precisam, mas temos que vender nossos corpos para isso”.

Os benefícios da troca estão empilhados no quarto de Elena no bordel Blue House -- sacos de arroz, farinha, açúcar e óleo de cozinha, produtos para os quais outros venezuelanos precisam fazer fila por horas nas lojas para comprar pelos preços regulados, isso se puderem encontrá-los.

Mercado negro

O bolívar caiu de 23 por dólar a 71 no mercado negro, desde que o presidente Nicolás Maduro sucedeu seu mentor Hugo Chávez em abril de 2013.

O governo restringiu a distribuição de reservas estrangeiras, que estavam próximo à maior baixa em uma década. A taxa de câmbio oficial, aplicada às importações de alimentos e medicamentos, é de 6,3 bolívares por dólar.

A escassez de dólares está transformando a Venezuela em uma sociedade de duas camadas semelhante à União Soviética e a Cuba, disse Steve Hanke, professor de Economia Aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore.

Aqueles com acesso a dólares, como prostitutas, agentes de turismo, motoristas de táxi de aeroporto e expatriados são capazes de se defender da inflação negociando seus dólares a taxas cada vez mais elevadas.

Aqueles que não podem fazê-lo estão vendo seus padrões de vida caírem.

Indústria em expansão

As autoridades têm tentado prender operadores de câmbio, fechando corretoras e estabelecendo quatro sistemas paralelos de câmbio para conter a ascensão da taxa não oficial nos 11 anos desde que Chávez começou a controlar o preço do bolívar.

As prostitutas de Puerto Cabello cobram dos marinheiros uma taxa fixa de US$ 60 por hora. Elas também ajudam os estrangeiros a conseguirem quartos, cartões de telefone e táxis, cobrando deles em dólares e pagando os senhorios e motoristas em bolívares.

“Nós derrotaremos o dólar paralelo”, disse o vice-presidente para a Área Econômica, Rafael Ramírez, em 20 de março, quando anunciou um novo mercado de câmbio.

O sistema, conhecido como Sicad II, permite que empresas e indivíduos comprem dólares em quantidades restritas por cerca de 50 bolívares cada, uma desvalorização de 88 por cento em relação à taxa oficial de câmbio.

“Nós não estudamos, não temos educação. O que nós faríamos se parássemos?”, disse Giselle, outra prostituta. “Trabalharia por um salário mínimo que não paga nem a comida? Se não estivéssemos aqui trabalhando com isso, estaríamos vivendo na rua”.

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