Relógio Cartier Tank Anglaise de ouro e aço, à venda por R$ 32.700 no shopping Cidade Jardim, em São Paulo (Gianluca Colla/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2015 às 16h37.
Última atualização em 28 de novembro de 2019 às 16h09.
Cartier e Louis Vuitton, símbolos internacionais da riqueza, parecem ter virado pechinchas em um dos pontos problemáticos da economia mundial: o Brasil.
Por causa da desvalorização do real, muitos produtos de marcas luxuosas agora ficaram mais baratos em São Paulo do que em Nova York.
Não muitos dos brasileiros comuns podem se dar a esses luxos.
No Cidade Jardim, um shopping a céu aberto com vista para os distritos empresariais de São Paulo, um relógio Cartier Tank Anglaise de ouro e aço custa R$ 32.700, o equivalente a US$ 9.326.
Na Quinta Avenida, em Manhattan, o mesmo relógio custa US$ 580 a mais, somando-se os diversos impostos de vendas. Descontos parecidos foram encontrados na Prada, na Tiffany Co., na Salvatore Ferragamo e na Christian Louboutin.
A disparidade dá mais um exemplo – ainda que sutil – de como a queda do real está repercutindo na economia do País.
Os preços de vários produtos importados, como telefones celulares e vinhos, aumentaram por causa da desvalorização do real, intensificando a angústia econômica no momento em que o Brasil está caminhando rumo à pior recessão em 25 anos.
Contudo, muitos itens de alta qualidade ficaram mais baratos em dólar graças a uma peculiaridade do setor de bens de luxo.
Louis Vuitton, Prada e várias outras não ajustam os preços com muita frequência e podem tolerar margens mais estreitas de lucro no Brasil para compensar parcialmente altos impostos sobre vendas e taxas de importação.
“Realmente é um fenômeno”, disse Nadya Hamad, gerente de uma sapataria Louboutin no shopping JK Iguatemi em São Paulo. “A gente sempre ouvia reclamações do alto custo aqui no Brasil. Agora, os clientes estão dizendo que está mais barato”.
Desconto de US$ 1.000
Quanto mais barato? Um passeio por alguns shoppings revela que entre cerca de duas dezenas de produtos luxuosos, 19 por cento estavam mais baratos que em Nova York.
O valor economizado variou de uns poucos dólares a US$ 1.000 em um par de plataformas New Very Riche Strass, cravejado de cristais, da Louboutin. Entre as pechinchas há gravatas Ferragamo, relógios Tiffany, carteiras Prada e bolsas Louis Vuitton.
Uma exceção foi a Rolex, que vem ajustando mensalmente os preços no Brasil, de acordo com Nelson Semeoni Junior, proprietário da joalheria Monte Cristo no shopping JK.
O real se desvalorizou 24 por cento frente ao dólar neste ano, o pior desempenho entre as principais moedas do mundo: empresas e personagens políticos eminentes foram envolvidos em um escândalo imenso de corrupção que começou com a Petrobras.
O real, que chegou a valer R$ 1,54 por dólar em 2011, agora está sendo comercializado na faixa de R$ 3,5 por dólar.
Jet set brasileiro
Trata-se de uma guinada notável em relação ao princípio desta década, quando o real forte transformou os brasileiros ricos em consumidores que percorriam o mundo.
Naquela época, muitos viajavam para Nova York ou Miami para fazer compras.
Mesmo incluindo o custo da passagem aérea, os brasileiros conseguiam boas ofertas ao esquivar as tarifas de importação e os impostos sobre as vendas, que chegam a duplicar os preços no Brasil.
Hoje, em São Paulo, os descontos são pegar ou largar. Eles estão concentrados nas lojas superluxuosas – e não devem durar. Representantes de diversas empresas preferiram não comentar.
Os vendedores nas lojas Cartier, Louboutin, Louis Vuitton e Prada estão avisando aos clientes que os preços não devem demorar para aumentar.
“A gente tenta segurar os preços”, disse Hamad, da Louboutin. “Mas eles devem subir em breve”.