Economia

Promessas de Levy estão muito elevadas, diz Gustavo Franco

De acordo com o ex-presidente do BC e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos, o Brasil terá um prejuízo total do setor público da ordem de 8% do PIB


	Joaquim Levy: para Franco, a trajetória negativa começou em 2008, quando o governo entendeu que tinha de tomar medidas anticíclicas, mas não soube parar
 (Valter Campanato/Agência Brasil)

Joaquim Levy: para Franco, a trajetória negativa começou em 2008, quando o governo entendeu que tinha de tomar medidas anticíclicas, mas não soube parar (Valter Campanato/Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de setembro de 2015 às 13h46.

São Paulo - As promessas do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estão muito elevadas, e ele não vai conseguir entregá-las.

Essa é a avaliação do ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, que participou na manhã desta quarta-feira,9, do 22º Fórum Nacional da Indústria de Aluguel de Automóveis.

De acordo com Franco, o Brasil terá, neste ano, um "prejuízo total do setor público da ordem de 8% do PIB". O problema, segundo o economista, é que, além da dívida pública excessiva, o governo "finge que isso (o alto endividamento) não existe".

O ex-presidente do BC afirmou que, a partir do Plano Real, o governo conseguiu regularizar as dívidas da União, Estados e municípios, e o País passou a ter superávit primário da ordem de 3% do PIB entre 1998 e 2008.

"Crescemos e isso permitiu que a taxa de juros caísse. Mais dez anos desse comportamento virtuoso e o País teria chegado a uma taxa de juros de 4% ao ano e um nível de endividamento muito menor", afirmou.

Para Franco, a trajetória negativa começou em 2008, quando o governo entendeu que tinha de tomar medidas anticíclicas, mas não soube parar. "Seguiu adiante com as medidas, e o resultado foi uma tragédia", disse o economista.

Inflação

O ex-presidente do BC disse também que o processo de elevação da taxa básica de juros (Selic) não está surtindo efeitos sobre a inflação, o que tem sido confirmado pelos indicadores de núcleos e pelos índices de difusão dos preços.

Para Franco, os indicadores adjacentes têm mostrado que as notícias no front inflacionário não são boas. "A inflação teve um caminho que todos sabemos, veio piorando, e a inflação de serviços, que é a mais limpa está batendo nos 10%, acima da inflação média", disse, acrescentando que a combinação de inflação e PIB negativo é a "combinação insensata de erros".

Segundo o ex-BC, os preços públicos foram administrados de forma heterodoxa, como se o governo estivesse tomando inflação para o futuro.

"Foi uma forma de congelamento lento. Nós sabíamos onde isso ia dar, como estamos vendo agora", criticou. Por isso, segundo ele, a taxa de juro tem funcionado como banhos frios, que resolvem no primeiro momento, abaixando a febre, mas que não curam a infecção.

A única coisa boa, de acordo com o sócio da Rio Bravo, é que as expectativas (Focus) mostram piora da inflação para 2015 e uma curiosa melhora para 2016 e 2017. "Mas é difícil dizer se essa melhora não é mais um desejo do que um cálculo", duvidou o economista.

Confiança

No Brasil, de acordo com Franco, está ocorrendo uma queda da confiança que não tem nada a ver com economia. Talvez, por isso, os aumentos da taxa de juros não estejam influenciando a economia.

"Aumento de juros, em geral, traz confiança de que no futuro haverá melhora, mas não é o que está acontecendo no Brasil", disse. O desemprego, de acordo com ele, vai bater rapidamente nos 10%.

Para Franco, é preciso olhar o quadro fiscal para entender o que está acontecendo. "Nosso problema no Brasil é a dívida pública excessiva, que distorce uma variável importante, que é a taxa de juros", disse ao afirmar que uma dívida de 65% do PIB para países que têm em patrimônio cinco vezes o PIB do exercício é mole. Para um país como o Brasil, é crítico.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralJoaquim LevyMercado financeiroMinistério da Fazenda

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto