Guido Mantega: o Brasil está buscando controlar os empréstimos dos bancos estatais que têm ajudado a pressionar os aumentos de preços acima da meta de 4,5% do governo (Peter Foley/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 6 de novembro de 2013 às 10h50.
São Paulo - A promessa do Brasil de cortar os empréstimos do BNDES em 20 por cento é a mais recente medida a fracassar para convencer os investidores em bônus de que o governo pode conter a inflação.
As expectativas de custo de vida continuaram próximas da maior alta em dois anos, de 6,45 por cento, desde que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em 1 de novembro que o BNDES reduzirá os empréstimos no ano que vem em um momento em que o Brasil busca cumprir metas fiscais.
A taxa de equilíbrio, baseada na diferença em rendimentos de bônus indexados à inflação e dívida a taxa fixa, subiu 118 pontos porcentuais desde que o Brasil iniciou o maior aumento do mundo em taxas de juros em abril. As expectativas de inflação no México e na África do Sul subiram menos no mesmo período.
O Brasil está buscando controlar os empréstimos dos bancos estatais que têm ajudado a pressionar os aumentos de preços na maior economia da América Latina acima da meta de 4,5 por cento do governo por três anos consecutivos.
Os bancos controlados pelo governo aumentaram os empréstimos em cinco vezes o ritmo dos concorrentes privados neste ano como parte de um esforço para reanimar o crescimento econômico. Analistas, em uma consulta semanal do Banco Central publicada em 4 de novembro, elevaram sua projeção para a inflação neste ano de 5,83 por cento para 5,85 por cento.
“Há uma rigidez de inflação”, disse Alex Agostini, economista-chefe da empresa brasileira de classificação de crédito Austin Rating, em entrevista por telefone, de São Paulo. “Eu não vejo o mercado menos preocupado, mesmo com a porta fechando no BNDES”.
A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda preferiu não comentar.
‘Reduziremos estímulos’
Mantega disse em 1 de novembro que o BNDES fornecerá cerca de R$ 150 bilhões (US$ 65,5 bilhões) em novos empréstimos em 2014, contra estimados R$ 190 bilhões neste ano.
“Com respeito aos bancos estatais, nós reduziremos estímulos”, disse Mantega em seu escritório em São Paulo, em 1 de novembro. O crédito “será mais focado e vamos diminuir o subsídio”.
O governo reportou um déficit de R$ 10,5 bilhões em setembro, superando a previsão de déficit de R$ 500 milhões de 17 economistas em uma consulta da Bloomberg. Como percentual do PIB, o déficit aumentou para 3,3 por cento em setembro, a maior relação desde 2009.
O enfraquecimento das contas fiscais e uma queda do real fizeram com que as expectativas de inflação subissem, segundo Tony Volpon, chefe de pesquisa de mercados emergentes da Nomura Holdings Inc.
O real caiu 10 por cento neste ano, o maior recuo entre as principais moedas depois do iene japonês e do rand sul-africano. A moeda brasileira mergulhou 1,9 por cento ontem, para 2,2890 por dólar, em meio à preocupação de que o governo não esteja fazendo o suficiente para frear os déficits do orçamento e evitar uma redução da classificação de crédito.
O secretário do Tesouro, Arno Augustin, disse à Agência Estado ontem que o Brasil cumprirá suas metas fiscais apesar de um “ataque especulativo” impulsionado pela cobertura da mídia sugerindo que o governo perdeu o controle das contas fiscais.
“O problema fiscal está entrando na cabeça de todo mundo”, disse Volpon em entrevista por telefone, de Nova York. “E o fato é que o real está começando a enfraquecer de novo, talvez retornando a 2,30 por dólar, o que poderia reavivar expectativas de agravamento da inflação”.
‘Compromisso fraco’
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse a repórteres em Fortaleza, em 4 de novembro, que os estrategistas precisam continuar “especialmente vigilantes” se a inflação rápida ameaça reduzir o crescimento potencial e a geração de empregos e salários.
A inflação neste ano cairá para menos do que os 5,84 por cento do ano passado e continuará desacelerando em 2014, disse Tombini a repórteres em Washington, no mês passado.
“O Banco Central dizer que a inflação irá desacelerar para um nível mais baixo que o do ano passado é um compromisso fraco”, disse Volpon, da Nomura. “As pessoas temem que o Banco Central não fará tudo o que é preciso para controlar a inflação”.