Economia

Projeto de Pacheco para dívidas estaduais pode elevar dívida pública em R$ 462 bi, aponta estudo

Estudo do economista Felipe Salto aponta impacto significativo na dívida pública

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 11 de julho de 2024 às 17h51.

Última atualização em 11 de julho de 2024 às 19h00.

Tudo sobreDívida pública
Saiba mais

O projeto de renegociação da dívida dos estados, apresentado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pode elevar a dívida pública em R$ 462,2 bilhões até 2033. Essa é a conclusão de um estudo realizado pelo economista-chefe da corretora Warren Rena, Felipe Salto, e pelo analista Gabriel Garrote.

De acordo com a estimativa da corretora, a dívida bruta em relação ao produto interno bruto (PIB) em 2033 passaria de 94,1% para 96,5%. Em 2025, a perda para a União poderia chegar a R$ 33,5 bilhões.

Detalhes da proposta

A proposta prevê que os estados endividados poderão repassar ativos, como estatais, para a União para abater a dívida e reduzir os juros pagos em até dois pontos percentuais em relação à regra geral de IPCA + 4%. Em relação aos demais dois pontos acima do IPCA, um ponto percentual deverá ser repassado a um fundo de equalização destinado a todos os estados da federação, e o restante poderá ser revertido em investimentos em áreas específicas, sobretudo em educação.

Aumento do déficit e da dívida pública

Na prática, a União vai deixar de receber juros sobre o dinheiro emprestado aos estados, restando apenas a correção monetária pelo IPCA. Segundo Salto e Garrote, isso não impacta o resultado primário do governo central, mas aumentará o déficit primário do setor público (resultado que inclui estados e municípios, além de estatais) e a dívida pública.

"Nada contra renegociar a dívida estadual em momentos de dificuldade para os estados, como foi o período 2014-2016. Atualmente, no entanto, o problema mais grave reside na delicada situação da União. Este ente está com um déficit primário de R$ 299,1 bilhões no acumulado de 12 meses até maio. Já os governos estaduais estão com superávit de R$ 40,1 bilhões. Quem precisa da ajuda é a União," destaca o relatório.

Incentivo para gastos e desafios

O projeto também incentiva os investimentos dos estados, o que aumentará a despesa estadual e pressionará o resultado primário dos governos regionais. Além disso, há riscos associados à superestimação dos valores dos ativos repassados para o governo federal e um desincentivo para quitação dos compromissos em dia.

Fundo de equalização e equilíbrio federativo

O fundo de equalização é uma tentativa de alcançar um maior equilíbrio federativo, dividindo o benefício que os estados superendividados terão com as demais unidades da federação. Atualmente, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul respondem por quase 90% da dívida estadual com a União.

Divergências entre estados

Apesar da proposta, estados com dívidas baixas ou que não estão devendo nada para o Tesouro Nacional ainda não consideram a proposta justa. O governador do Piauí, Rafael Fonteles, afirmou que os cinco estados mais endividados podem ter uma redução superior a R$ 25 bilhões por ano nos encargos da dívida, enquanto o fundo seria irrigado com menos de R$ 6 bilhões por ano.

Há também uma proposta para que o repasse para o fundo seja de dois pontos percentuais dos juros, em vez de um ponto, mas não há consenso entre os estados menos endividados. Parte dos governadores teme perder os recursos referentes a um ponto já acordado.

Mesmo entre os mais endividados, há divergências. O governo de Goiás reconhece a importância da iniciativa, mas aponta que a proposta, em sua forma atual, não atenderá plenamente às necessidades do estado.

"O governo de Goiás reconhece a importância da iniciativa, todavia aponta que a proposta, em sua forma atual, não atenderá plenamente às necessidades do estado," diz em nota.

Acompanhe tudo sobre:Rodrigo PachecoDívida públicaSenado

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor