Escolas americanas: professores do Arizona estão entre os mais mal pagos dos Estados Unidos (AFP/Photo/AFP Photo)
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Publicado em 5 de novembro de 2022 às 18h30.
Nos últimos meses, Shivani Dalal teve que fazer várias mudanças em sua vida. Com a inflação consumindo seu salário de educadora, ela foi forçada a cortar o orçamento doméstico e procurar um segundo emprego.
Os professores do Arizona estão entre os mais mal pagos dos Estados Unidos. O sindicato deste estado do sudoeste se tornou um dos mais afetados pelo aumento do custo de vida do país, que vai às urnas na próxima terça-feira (08) para eleger governadores, parlamentares e outros cargos regionais.
A economia, afetada principalmente pela alta da inflação, está no centro da disputa por votos.
Dalal, 27, diz que durante o verão "foi bastante apertado". Depois de pagar aluguel, empréstimo do carro e contas, ficou com apenas US$ 400 para viver, um grande desafio em um país onde os preços dos alimentos quadruplicaram nos últimos meses.
Apesar de ter recebido um aumento salarial em setembro, Dalal teme que os serviços continuem em alta. Isso porque continuará arcando com o empréstimo universitário no ano que vem, uma realidade para muitos jovens que almejam se tornar profissionais nos Estados Unidos, que não oferece ensino superior gratuito.
Para sobreviver, essa professora conseguiu um segundo emprego e faz campanha pelos democratas depois das aulas, o que elevou sua carga de trabalho para mais de 70 horas por semana.
"Trabalhar tanto é muito estressante", diz Dalal, que considera voltar para a casa dos pais na Califórnia por causa da situação econômica.
A inflação pós-pandemia é particularmente problemática no Arizona, onde sua capital, Phoenix, viu o maior aumento de preços do país em agosto, impressionantes 13% ano a ano.
Kareem Neal, 48, passou metade de sua vida trabalhando com alunos com deficiência e finalmente conseguiu o apartamento dos seus sonhos, com uma vista deslumbrante do centro de Phoenix.
Apesar de ser um professor reconhecido no estado, chegando até a alcançar o reconhecimento nacional, Neal tem tido que complementar seu salário de professor atuando como motorista de aplicativo, segurança de boate e até como 'coach' motivacional.
Entretanto, o aumento dos preços nos últimos seis meses consumiu sua capacidade de poupar enquanto ele se aproxima dos 50 anos de idade.
Para garantir sua aposentadoria e a possibilidade de comprar uma casa, Neal pensa em reajustar seu orçamento.
"Isso afeta você, chegará o dia em que eu deixarei de trabalhar em dois empregos?, questiona-se. "Chegará o dia em que eu poderei descansar um pouco mais e me divertir um pouco mais?".
Com as eleições de meio de mandato à vista, Neal se sente frustrado.
"Moro no Arizona há 23 anos e, desde que cheguei aqui, vejo políticos dizerem que são a favor da educação pública e que os professores merecem um salário melhor", diz ele.
"Eles não me convencem", acrescenta, referindo-se aos baixos aumentos nos últimos anos.
Vários de seus colegas deixaram o emprego na escola em que ele trabalha. A situação é comum no estado, que no início deste ano letivo tinha mais de um quarto das vagas no setor educacional, segundo a Associação de Administradores de Pessoal Escolar do Arizona.
Em uma tentativa de não perder mais professores, a Universidade do Norte do Arizona lançou um programa de orientação que permite que os alunos aprendam a profissão ao lado de educadores dentro das salas de aula, sem pagar nada adiantado pelo mestrado.
Os alunos recebem uma bolsa de estudos no primeiro ano e um salário de professor depois, mas devem ensinar no Arizona por pelo menos três anos.
Para Aisha Thomas, 25, essa alternativa é "um grande alívio" financeiro.
"Se eu não estivesse no programa, teria que fazer um empréstimo para pagar a faculdade, além de outras despesas", acrescenta ela.
Os idealizadores desta aula prática pretendem contratar pelo menos 100 professores estagiários por ano e esperam expandir a colaboração para incluir o auxílio-moradia.
"Isso deve permitir que eles sobrevivam às marés de inflação que estão enfrentando agora", disse a diretora Victoria Theisen-Homer.