"O produtor está aproveitando para se capitalizar, para renovar maquinário. É a primeira vez, nos últimos 10 anos, que ele vai poder de novo ter aquela folga", comemora um dos produtores (Igor Spanholi/Stock.Xchnge)
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2013 às 11h05.
Ponta Grossa - O produtor Geraldo Slob, da importante região agrícola de Ponta Grossa, no Paraná, terminou a colheita de seus 700 hectares de soja no fim de semana, mas não tem nenhuma intenção de vender o produto nas próximas semanas. E assim como ele, muitos outros produtores da região também pretendem segurar os estoques, à espera de melhores condições de comercialização.
A estratégia de produtores como Slob e seus vizinhos difere da média do país. Estudos de consultorias mostram que cerca de 60 por cento da soja da safra 2012/13 já foram vendidos antecipadamente.
No entanto, na região dos Campos Gerais do Paraná, no entorno de Ponta Grossa, a venda antecipada fica em torno de 25 por cento, de acordo com estimativa de cooperativas e dos próprios agricultores.
O motivo está na atual saúde econômica dos produtores, em meio a uma safra que promete ser abundante, e também no modelo disponível na região no qual se vê boa oferta de financiamentos.
"É o terceiro ano bom. A fase é boa. O produtor está aproveitando para se capitalizar, para renovar maquinário. É a primeira vez, talvez nos últimos 10 anos, que ele vai poder de novo ter aquela folga", comemora Slob.
Na cooperativa Coopagrícola, que recebe soja de cerca de 330 produtores da região de Ponta Grossa, a comercialização antecipada não passa de 25 por cento.
"A região aqui sempre foi mais cautelosa com relação a vender antecipadamente. Porque eles (produtores) não precisam vender para fazer a lavoura. As cooperativas financiam, os bancos financiam. Vendem só para garantir uma parte do financiamento. É uma característica da nossa região", afirma o presidente da cooperativa, Gabriel Nadal.
Os agricultores estiveram reunidos na noite de segunda-feira em um evento do Rally da Safra em Ponta Grossa, uma expedição técnica que percorre o Brasil avaliando as condições das lavouras de grãos.
Atenção a outros países
Muitos produtores diziam estar agora atentos à oferta mundial da oleaginosa. Uma atenção especial é dada às projeções de colheita na Argentina --onde uma seca coloca em xeque as produtividades da atual safra.
Os agricultores aguardam também as primeiras definições sobre a safra norte-americana, já que foi a pior seca em mais de 50 anos nos EUA em meados do ano passado que catapultou as cotações internacionais a recordes históricos.
O sojicultor João Luís Giostri, que começou a colheita na semana passada e já tem cerca de 30 por cento de sua soja comercializada antecipadamente, não está satisfeito com os preços atuais oferecidos no mercado paranaense. Ele teve ofertas de 59 reais por saca esta semana, mas não tem interesse em vender, por enquanto.
"Setenta reais seria excelente. Se chegar a esse patamar, eu limpo o armazém", afirma. "Agora vou vendendo 'picadinho', porque agora é uma época em que todo mundo está vendendo e precisa de dinheiro. Até o mês de maio, mais ou menos, você fica quieto, esperando." Em 2012 os estoques mundiais de soja ficaram apertados com a quebra de safra nos EUA e também uma redução na produtividade das lavouras da Argentina e do sul do Brasil. Compradores estrangeiros contam com uma boa produção na América do Sul para reequilibrar a oferta do produto. Há filas nos portos brasileiros a espera da soja que está na fase inicial de colheita.
A projeção oficial do governo brasileiro é de um recorde de 83,4 milhões de toneladas de soja na temporada 2012/13. O Paraná, segundo maior Estado produtor atrás apenas de Mato Grosso, deverá responder por quase um quinto deste volume.