Economia

Produtores nos EUA podem trocar tabaco por cannabis

A Altria Group, dona da Marlboro, fez um investimento de US$ 1,8 bilhão no Cronos Group, a quarta maior fabricante de maconha

Agricultores em partes do cinturão de tabaco dos EUA, como Kentucky, já estão optando pelo cânhamo, uma variedade de cannabis que não produz efeitos alucinógenos (Juan Arredondo/The New York Times)

Agricultores em partes do cinturão de tabaco dos EUA, como Kentucky, já estão optando pelo cânhamo, uma variedade de cannabis que não produz efeitos alucinógenos (Juan Arredondo/The New York Times)

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Clara Cerioni

Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 16h23.

São Paulo - A Altria Group, fabricante norte-americana dos cigarros Marlboro, fez um investimento de 1,8 bilhão de dólares no Cronos Group na sexta-feira, em meio à pressão para encontrar novos caminhos de crescimento diante da queda das taxas de tabagismo nos EUA.

A parceria, que inclui a opção de a Altria assumir o controle majoritário no futuro, pode fazer com que os fornecedores da empresa nos EUA troquem o tabaco pela cannabis se a droga for legalizada, disse Mike Gorenstein, CEO da Cronos, que tem sede em Toronto. Embora vários estados do país tenham legalizado a maconha, ela continua proibida pela lei federal.

"Sem dúvida, é útil que a Altria já tenha um relacionamento com agricultores contratados locais", disse Gorenstein em entrevista por telefone na sexta-feira. "Podemos ajudar esses agricultores a fazer a transição imediatamente para o cultivo de cannabis."

A Altria terceiriza a produção de tabaco para "vários milhares" de agricultores, de acordo com o site da empresa.

Foco em genética

"Trabalhamos com milhares de produtores de tabaco hoje e valorizamos esses relacionamentos", disse o porta-voz da Altria, Steven Callahan. "Não posso especular sobre futuras decisões que possam tomar."

A Cronos cultiva sua própria maconha em uma instalação a cerca de 130 quilômetros ao norte de Toronto, mas está mais concentrada em genética e propriedade intelectual do que no cultivo, disse Gorenstein em teleconferência com analistas na sexta-feira. Suas ações subiram 22%, para um valor de mercado de 3 bilhões de dólares canadenses (2,3 bilhões de dólares), devido ao acordo com a Altria, o que tornou a Cronos a quarta maior empresa de maconha.

"É importante notar que a Altria não produz seu próprio tabaco", disse ele. "Consideramos que o modelo de cultivar as próprias plantas é muito difícil de expandir e executar bem."

Agricultores em partes do cinturão de tabaco dos EUA, como Kentucky, já estão optando pelo cânhamo, uma variedade de cannabis que não produz efeitos alucinógenos. Essa transição deve continuar se a lei agrícola dos EUA for aprovada neste mês, legalizando totalmente o cânhamo e seus extratos.

A cannabis também poderia ser uma alternativa para os produtores de soja dos EUA que foram afetados pelas tarifas chinesas, disse Alvin Tai, analista da Bloomberg Intelligence, em um relatório de 4 de dezembro. Um produtor de soja dos EUA com uma fazenda média de 180 hectares e produtividade de 49 bushels perdeu cerca de 43,5 mil dólares em receita com a guerra comercial. O prejuízo poderia ser compensado pelo lucro de 16 quilos de cannabis, que exige cerca de 28 metros quadrados de área de plantio, acrescentou.

A Cronos não é a única empresa canadense de maconha que pretende reduzir sua dependência do cultivo em prol de empreendimentos de maior margem, como propriedade intelectual e marcas. A CannTrust Holdings está negociando com agricultores da região de Niágara, em Ontário, que querem mudar de safra para a cannabis, disse o CEO Peter Aceto em entrevista no mês passado.

"Conversamos com agricultores que estão extremamente dispostos a fazer essa troca", disse ele, acrescentando que a terceirização para os agricultores deve ajudar a CannTrust a atingir sua meta de reduzir o custo de produção para menos de 30 centavos por grama, em comparação com o nível atual de 83 centavos por grama. Isso a deixaria entre os produtores de menor custo do setor de maconha canadense.

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