Construção: registrou aumento da confiança empresarial em julho (Dado Galdieri/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 9 de março de 2017 às 06h00.
Última atualização em 9 de março de 2017 às 11h05.
São Paulo - A produtividade brasileira está estacionada desde 1980, de acordo com um estudo publicado ontem pelo banco Credit Suisse.
O zero a zero após três décadas e meia é resultado da volatilidade da medida, que alternou períodos de crescimento e de queda.
Entre 1981 e 1990, a produtividade por trabalhador caiu 2% em média por ano. De 1991 a 2000, subiu 1,6% anualmente na mesma medida.
O dado continuou positivo entre 2001 e 2010, mas o ritmo caiu para 1,2% ao ano. Entre 2011 e 2016, voltou a ser negativo, agora com taxa média de 1,1% por ano.
Tudo isso em contraste com o período anterior, entre 1950 e 1980, quando a produtividade do trabalho cresceu a uma média anual de 3,5%.
Naquelas décadas, foi esse o principal fator responsável pelo crescimento expressivo da renda per capita do país (3,9% por ano, em média).
Era uma época de urbanização acelerada, em que a própria migração dos trabalhadores de setores menos produtivas (como agropecuária) para outros mais produtivos (como indústria e, cada vez mais, serviços) já levava a uma produtividade maior.
Dos anos 80 para cá, o processo esfriou e a produtividade estagnou. A baixa adoção de tecnologias e distorções tributárias que levam a uma alocação ineficiente de recursos são outros fatores citados.
Ainda assim, a renda per capita cresceu 0,7% por ano em média desde então, o que pode ser explicado por outro fator: a inserção de pessoas no mercado de trabalho.
Mesmo que o resultado por trabalhador não cresça, fazer com que mais pessoas produzam já é suficiente para aumentar o bolo. O problema é que esse processo também tem limites naturais e já está se esgotando.
"Os resultados sugerem que o crescimento da renda per capita no Brasil será ainda mais dependente da dinâmica da produtividade nos próximos anos", diz o texto do banco.
Esse também é o diagnóstico de Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em entrevista recente para EXAME.com, ele elegeu a produtividade como a grande responsável pelo baixo potencial de crescimento do país:
"A produtividade é baixa e caiu em relação ao padrão internacional. E se ela não cresce, combinada com uma transição demográfica que faz com que a população em idade de trabalhar cresça mais devagar, o potencial de crescimento fica menor. A equação dos 2% a 3% [de potencial] vem daí, mas não é uma regra biológica ou escrita em pedra. Se conseguir fazer reformas, consegue crescer mais."