Porto de Santos: atividades no principal canal exportador para o agronegócio ainda não foram restabelecidas, segundo o Sopesp (Germano Lüders/Exame)
Reuters
Publicado em 30 de maio de 2018 às 17h23.
São Paulo - A produção e as exportações brasileiras de commodities agrícolas continuam praticamente travadas apesar da redução dos protestos de caminhoneiros, uma vez que importantes portos seguem com operações longe do ideal, o que pode levar empresas a declarar "força maior" nas vendas de soja e deixar de embarcar 900 mil sacas de café.
No Porto de Santos, o maior da América Latina e o principal para o agronegócio do Brasil, as atividades ainda não foram restabelecidas, afirmou o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp) nesta quarta-feira.
A entidade, que reúne empresas como ADM e Copersucar, destacou que não houve "retomada imediata da normalidade da movimentação de caminhões".
"Os motoristas se recusam a conduzir seus veículos aos pontos de carga e descarga, mesmo com garantia de escolta policial. Permanecem estacionados em diversos pontos, aparentemente aguardando ordens ou melhores condições para seguir viagem", disse o sindicato, em nota.
Em Paranaguá (PR), a manifestação ainda "está impactando diversos setores da cadeia portuária", afirmou a administração local, destacando que 643 mil toneladas de produtos deixaram de ser movimentadas durante os protestos.
Cinco navios de farelo e um de soja, totalizando cerca de 280 mil toneladas, deixaram de ser embarcados, enquanto a movimentação de fertilizante e cereais ficou 20 mil toneladas por dia menor durante os protestos, segundo a administração do porto.
As manifestações de caminhoneiros, que começaram contra a alta do diesel, estão nesta quarta-feira em seu décimo dia, embora bem mais fracas, com o reabastecimento de cidades e normalização de serviços.
De acordo com o assistente executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Lucas Trindade, algumas empresas já trabalham para a declaração de "força maior", quando não conseguem honrar seus compromissos em razão de fatores externos à própria operação.
"Seria necessário uma semana, talvez dez dias, para os estoques serem recompostos e os navios retomarem os embarques nos portos", afirmou ele, em relação principalmente à soja, cuja safra recorde acabou de ser colhida.
"No geral, estamos deixando de embarcar 400 mil toneladas por dia (de soja)... Para todo volume que deixa de ser embarcado, há a possibilidade de ser declarada 'força maior', mas em nem todos os casos esse dispositivo é acionado. Alguns preferem segurar um pouco mais, pegar empréstimo de outra carga, negociar com o navio..."
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) reafirmou nesta quarta-feira que todas as 63 unidades de produção associadas estão com as atividades suspensas, embora haja previsão de retomada dos serviços "nas próximas horas".
Já a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) informou que 35 indústrias estão paradas devido a não retirada dos produtos e consequente esgotamento da capacidade de estocagem. A entidade requereu à reguladora ANP a venda de biodiesel puro (B100) sem necessidade de leilão, "com objetivo de o objetivo de ampliar a oferta de combustíveis".
Outro setor que vem contabilizando perdas na exportação é o de café. O Conselho dos Exportadores do Brasil (Cecafé) estimou nesta quarta-feira que 900 mil sacas deixarão de ser embarcadas neste mês, representando perda de 560 milhões de reais em receita.
"Os embarques estão parados neste momento. Felizmente o café é um produto que não é perecível, mas isso quebra a credibilidade do Brasil como exportador", comentou Nelson Carvalhaes, presidente do Cecafé.
"A gente já escuta algum movimento no interior, que já tem um fluxo maior nos armazéns, mas no porto segue parado", acrescentou Carvalhaes.
Com relação à produção do café, cuja safra neste ano deve ser recorde, em mais de 58 milhões de sacas, o impacto ainda é pequeno, uma vez que a colheita deve engrenar apenas no mês que vem.