Ata do Copom: de acordo com o documento, os ajustes de preços "fazem com que a inflação se eleve no curto prazo e tenda a permanecer elevada em 2015” (Gregg Newton/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 12 de março de 2015 às 10h49.
Brasília - A intensificação de ajustes de preços na economia tornou o balanço de riscos da inflação “menos favorável” para 2015, avalia o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
A análise está na ata divulgada hoje (12) da última reunião do colegiado, realizada nos dias 3 e 4 de março.
No encontro, o Copom decidiu aumentar em 0,5 ponto percentual a Selic, taxa básica de juros da economia, que atingiu 12,75% ao ano. A alta deste mês foi a quarta elevação consecutiva da Selic.
De acordo com o documento, os ajustes de preços "fazem com que a inflação se eleve no curto prazo e tenda a permanecer elevada em 2015”.
A nota destaca que, reconhecendo os impactos dos ajustes sobre a inflação, “o comitê reafirma sua visão de que a política monetária pode e deve conter os efeitos de segunda ordem dela decorrentes”.
Na ata da reunião anterior, de janeiro, o Copom havia projetado que a inflação tendia a permanecer elevada, mas entraria em declínio ainda este ano. No comunicado de março, não foi incluída a expectativa de queda para 2015.
Segundo o comitê, entre os fatores levados em conta para a última elevação da Selic estão os ajustes de preços administrados – regulados pelo governo – com destaque para gasolina e energia elétrica.
O comitê trabalhou com estimativa de alta de 10,7% nos preços administrados, considerando hipótese de elevação de 8% no preço da gasolina, “em grande parte, reflexo da incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e do PIS/Cofins” e de 38,3% nos preços da energia elétrica, em razão do repasse ao consumidor dos custos das operações de financiamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).
O Copom prevê ainda, que a evolução dos preços internacionais do petróleo tende a se transmitir à economia doméstica, “tanto por meio de cadeias produtivas, como a pretoquímica, quanto por intermédio das expectativas de inflação”.
O colegiado manifestou-se também sobre a questão do cumprimento da meta fiscal. Segundo o Copom, o balanço do setor público "tende para a neutralidade, sem descartar hipótese de migração para zona de contenção".
Para o comitê, uma trajetória de superávit primários estimulará o investimento e impactará também sobre o combate à inflação.
“A literatura e as melhoras práticas internacionais recomendam política fiscal consistente e sustentável, de modo a permitir que as ações de política monetária sejam plenamente transmitidas aos preços”.
O Copom prevê que a demanda agregada, compra de bens e serviços por consumidores, empresas e Estado, tende a se mostrar “moderada”, bem como a expansão do crédito.
De acordo com o comitê, o consumo das famílias deve se estabilizar. Por outro lado, o colegiado estima que “condições relativamente favoráveis” no caso de financiamento imobiliário, concessão de serviços públicos e ampliação de renda agrícola podem favorecer os investimentos.
Já as exportações devem ser beneficiadas, em função do cenário de alta do dólar e “maior crescimento de importantes parceiros comerciais”.
Com relação à economia global, para o Copom, continuam elevados os riscos para a estabilidade financeira. O colegiado pondera que “apesar de identificar baixa probabilidade de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais, o ambiente externo permanece complexo”.
Mas, mesmo com taxas de crescimento das economias externas menores do que se antecipava em 2014, as perspectivas são de “recuperação de algumas economias maduras (...) e intensificação do crescimento em outras”.
Para 2016, o Comitê de Política Monetária mantém a avaliação de que o cenário de convergência da inflação para o centro da meta, que é 4,5%, “tem se fortalecido”.
O colegiado também voltou a afirmar que os sinais benignos nesse sentido “ainda não se mostraram suficientes”. O Copom se reúne novamente nos dias 28 e 29 de abril.