Samuel Moreira, relator: estados e municípios ficam fora da reforma, ao menos num primeiro momento (Pablo Valadares/Agência Câmara)
João Pedro Caleiro
Publicado em 13 de junho de 2019 às 10h52.
Última atualização em 14 de junho de 2019 às 14h11.
São Paulo — Uma versão modificada da reforma da Previdência (PEC 6/19) foi apresentada nesta quinta-feira, 13, por Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da emenda constitucional na Comissão Especial da Câmara dos Deputados.
O novo texto reduz a previsão de economia com a proposta para R$ 913,4 bilhões em uma década, abaixo do R$ 1,2 trilhão previsto inicialmente pela equipe econômica do governo.
Mas com o anúncio do fim da transferência de 270 bilhões de reais em receitas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o impacto total de economia chega a R$ 1,13 trilhão.
Foram apresentadas 277 emendas ao texto durante a Comissão Especial. Parte das mudanças aceitas já haviam sido adiantadas na tarde de ontem pelo relator e pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
A reforma ainda precisa ser votada na Comissão, o que deve acontecer em cerca de duas semanas. Por ser uma emenda constitucional, o texto precisa ser aprovado em plenário por dois terços dos deputados e dois terços dos senadores em dois turnos.
Veja o que muda com o texto divulgado hoje:
Funcionários públicos de estados e municípios foram retirados do texto da reforma, mas estão mantidas as articulações para incluí-los através de uma emenda no momento da votação.
Também foi retirada a proposta de um modelo de capitalização, em uma derrota para o ministro da Economia, Paulo Guedes, assim como a desconstitucionalização das regras previdenciárias.
Outra mudança excluída, uma das mais polêmicas desde que o texto foi apresentado em fevereiro, foi o novo modelo para o BPC, benefício de um salário mínimo pago a deficientes e pessoas a partir dos 65 anos em situação de miserabilidade.
As alterações na aposentadoria rural também foram retiradas na nova versão. O governo previa subir o tempo de contribuição mínimo de 15 para 20 anos para homens e mulheres, elevar a idade mínima de aposentadoria das mulheres de 55 para 60 anos e exigir um valor mínimo anual de contribuição previdenciária do grupo familiar de 600 reais.
Outra proposta excluída foi a elevação de 15 para 20 anos do tempo mínimo de contribuição para mulheres receberem aposentadoria. Essa elevação, no entanto, foi mantida para os homens.
A idade mínima para as professoras será de 57 anos e não de 60 anos como na proposta original.
Pedro Nery, economista especialista em Previdência e consultor legislativo no Senado, aponta que as mudanças vieram dentro do que estava sendo antecipado nos últimos dias e, em alguns pontos, desde o início do processo.
Mesmo assim, foi mantido um "impacto fiscal significativo" ao mesmo tempo que pontos de resistência foram suavizados. "Muito do discurso oposicionista não tem mais sustentação", avalia Nery.
Está mantido o fim da aposentadoria por tempo de contribuição e o estabelecimento de uma idade mínima para aposentadoria de 65 anos para os homens e 62 para as mulheres.
Também está mantida a proposta de idade mínima de 55 anos para policiais e agentes penitenciários.
Foi mantido a regra do cálculo das pensões proposta pelo governo, de 50% do valor da aposentadoria, mais 10% por dependente. Mas o pagamento será de 100% do benefício quando houver dependente inválido, com deficiência grave, intelectual ou mental.
O relatório mantém a proposta original do governo para a aposentadoria dos políticos, assim como as novas alíquotas progressivas de contribuição para os servidores da União.
Moreira também preservou o artigo que garante que a média salarial seja calculada com base em 100% dos salários. O relatório mantém o cálculo do benefício partindo de 60% da média de salários aos 20 anos contribuição, com acréscimo de 2 pontos porcentuais para cada ano trabalhado além disso.
Uma nova regra de transição para os servidores públicos permitirá a aposentadoria aos 60 anos para os homens e aos 57 para as mulheres. Na PEC original, era citada apenas a idade mínima de 65 e 62.
Foi suavizada a regra de transição para os servidores públicos. A transição começa com idade mínima de 56 anos para as mulheres e 61 anos para os homens, subindo seis meses por ano. Após 12 anos de transição, chega-se às idades mínimas citadas.
Além da nova idade, o novo modelo de transição prevê um "pedágio" de 100% do tempo que ainda falta para se aposentar.
O abono salarial, hoje pago para os trabalhadores que recebem até dois salários mínimos por mês (R$ 1,996,00), será para quem ganha até R$ 1.364,43 mensais. A proposta original do governo era de que fosse pago só para quem ganha até um salário mínimo (R$ 998).
Uma novidade inserida do lado da receita foi a mudança na tributação de bancos, subindo a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de 15% para 20%. Este foi o patamar vigente entre 2015 e o final de 2018.
O relatório cita uma estimativa de potencial de arrecadação de aproximadamente R$ 50 bilhões, em valores atuais, nos próximos 10 anos.
Assista ao vivo à leitura do relatório:
E veja na íntegra o texto do relator:
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(Com informações do Estadão Conteúdo)