Economia

Previdência perde 1,1 milhão de contribuintes ocupados em 1 ano

Fatia de contribuintes da Previdência na população ocupada caiu de uma média de 65,5% em 2016 para 64,1% em 2017

Redução da formalização do emprego e a maior insegurança sobre a renda familiar também reduzem a contribuição para Previdência (Uelder Ferreira/Thinkstock)

Redução da formalização do emprego e a maior insegurança sobre a renda familiar também reduzem a contribuição para Previdência (Uelder Ferreira/Thinkstock)

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Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 14h30.

Rio de Janeiro - A redução no total de postos de trabalho com carteira assinada no País diminuiu o porcentual de ocupados que contribui para a Previdência Social.

A fatia de contribuintes da Previdência na população ocupada caiu de uma média de 65,5% em 2016 para 64,1% em 2017, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta quarta-feira, 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A população de ocupados que contribui para a Previdência brasileira passou de 59,210 milhões em 2016 para 58,114 milhões no ano passado, 1,1 milhão de pessoas a menos.

"Houve aumento de empregos sem carteira, de trabalhadores por conta própria e de emprego doméstico. Por mais que seja uma forma de sobrevivência, essas pessoas não estão contribuindo para a Previdência. Não é bom para a pessoa, não é bom para o País, não é bom para ninguém", ressaltou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A redução da formalização do emprego e a maior insegurança sobre a renda familiar também reduzem o ímpeto de contribuição de quem trabalha na informalidade, acrescentou Azeredo.

Segundo o pesquisador, há um processo em curso de recuperação do mercado de trabalho em 2017 em relação ao auge da crise, mas persistem alguns pontos negativos, entre eles o fechamento de vagas com carteira assinada no setor privado.

"Na retrospectiva de 2016, o quadro era bem mais complicado. Você fecha o ano de 2017 no vermelho, mas com gravidade menor", disse Azeredo.

Qualidade questionável

A queda na taxa de desemprego na reta final de 2017 já era esperada, segundo Cimar Azeredo. A taxa de desocupação passou de 12,4% no terceiro trimestre para 11,8% no quarto trimestre do ano passado, de acordo com os dados da Pnad Contínua.

"Como o aumento da ocupação foi muito expressivo, isso fez a taxa de desocupação cair. O movimento já era esperado. Novembro e dezembro são meses que já existe a contratação de funcionários temporários, acontece normalmente no comércio", lembrou Azeredo.

O pesquisador destacou que o comércio, o setor de outros serviços e os serviços domésticos puxaram a alta nas contratações no quarto trimestre.

"Nos serviços domésticos, a alta é um ponto para acompanhar. A gente não sabe se isso é fuga do desemprego", lembrou Azeredo. "Em outros serviços, (a contratação) foi na parte de embelezamento, cabeleireiro, cuidados pessoais", explicou.

Embora a pesquisa tenha trazido geração e vagas e redução no total de desempregados, a

"qualidade do emprego é questionável", ponderou o coordenador do IBGE. "Aumenta o emprego sem carteira, aumenta o emprego por conta própria e aumenta o pequeno empregador, então a qualidade é questionável do emprego nessa suposta recuperação que estamos vendo no mercado de trabalho", disse ele.

Média estável

Embora o mercado de trabalho dê sinais de melhora, a média da população ocupada no País em 2017 ficou praticamente no mesmo patamar de 2016, segundo Cimar Azeredo.

A média da população ocupada passou de 90,384 milhões em 2016 para 90,647 milhões em 2017, de acordo com os dados da Pnad Contínua.

Ao mesmo tempo, a desocupação média em 2017 cresceu em 1,474 milhão de pessoas, passando de uma população de 11,760 milhões de desempregados em 2016 para 13,234 milhões no ano passado.

"Teve uma perda de trabalho muito alta. Em três anos, aumentou a desocupação em 6,4 milhões (de pessoas). Você não vai recuperar isso de um trimestre para o outro, porque perdeu estabilidade no emprego. Jovens que estavam na faculdade ou no ensino médio vão para a fila da desocupação para tentar recompor essa perda de estabilidade (de emprego do chefe da família)", justificou Azeredo.

Na média dos quatro trimestres de 2017, a força de trabalho cresceu em 1,7 milhão de pessoas.

"O aumento da força de trabalho foi praticamente todo para a desocupação", ressaltou o coordenador do IBGE. "Há desaceleração no ritmo de crescimento (da população desempregada), mas, em relação ao ano passado, ainda tem aumento na desocupação", completou.

No quarto trimestre de 2017, porém, o cenário já é de redução na desocupação em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. O total de desempregados teve ligeiro recuo de 0,3%, 31 mil desocupados a menos. Ao mesmo tempo, a população ocupada cresceu 2,0%, 1,846 milhão de empregados a mais.

"Essa ocupação de 1,8 milhão de vagas que foi gerada deu conta de fazer que a desocupação ficasse estável em relação ao mesmo período do ano passado. Estamos falando de três anos de desocupação com alta significativa. Apenas em função de um componente sazonal, como agora aconteceu, é difícil saber se isso vai reduzir de forma absurda. Tem que esperar um período de recuperação do emprego, emprego mesmo, com carteira (assinada). A recuperação do emprego não vai se dar do dia para a noite nem de um mês para o outro", ponderou o pesquisador do IBGE.

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