Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco: "a economia brasileira está em processo de transição. Quando chegarmos em dezembro poderemos comemorar bases e não o PIB" (Germano Luders)
Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2015 às 18h16.
São Paulo - O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, disse, em conversa com jornalistas nesta segunda-feira, 6, que o ajuste fiscal que está sendo promovido pelo governo não é "uma solução em si", mas é um meio pelo qual se poderá criar bases para a retomada do crescimento da economia brasileira .
Além disso, destacou, o ajuste ajudará a reconquistar a credibilidade em relação à economia do País.
"A economia brasileira está em processo de transição. Quando chegarmos em dezembro poderemos comemorar bases e não o PIB", destacou, lembrando que são essas bases, que estão sendo construídas, segundo ele, reequilibrando diversos fatores da economia, que poderão ajudar a se criar um ambiente mais propício ao crescimento da economia do País em 2016.
Trabuco disse que o ajuste fiscal tem senso de urgência e que é preciso "apertar o passo". "Agora é hora de decidir, de homologar", destacou, reiterando a importância de que o pacote do ajuste seja aprovado pelo Congresso, mas afirmou estar otimista de que isso ocorra.
Rito de passagem
Trabuco afirmou que ficou para este ano o desafio do rito de passagem para que em 2016 o País possa enfrentar uma agenda diferente. "Quando chegarmos em dezembro de 2015, não comemoraremos um PIB, mas o fato de termos feitos uma série de atividades, tomado atitudes e mudanças de métodos para enfrentar uma agenda diferente em 2016", observou Trabuco no discurso de abertura do Brazil Investment Forum, evento realizado pelo Bradesco.
"Temos missões difíceis e complexas, um processo de reinvenção e superação, temos de apertar o passo, e a equipe econômica tem capacidade reconhecida, técnica e de trabalho, para corrigir os problemas da política anticíclica dos últimos anos", acrescentou o executivo do Bradesco.
Ele destacou que no cenário econômico de 2014 o País foi premido por um calendário nada trivial, marcado pela Copa e pelas eleições presidenciais, "que foi a vitória da democracia e que nos deu a expectativa de um novo governo que resolvesse as questões que ficaram em aberto". Entre essas questões, continuou, o desequilíbrio do peso relativo da economia que gerou "uma promissória".
O presidente do Bradesco ressaltou que não existe plano B ou plano C para a solução dos problemas do Brasil e que o plano é o que o governo apresentou. "O que existe é restaurar a confiança para que o País possa se superar. A meta de superávit fiscal é factível, assim como a política fiscal, que possibilite um controle da inflação capaz de derrubar o juro para que não se criem problemas e o ônus ao Tesouro", disse.
Congresso
Trabuco mostrou também confiança na capacidade de negociação do governo com o Congresso. "A nossa torcida é de entendimento entre o Executivo e o Legislativo e a nossa percepção é que o Congresso não irá voltar as costas para a necessidade do País", comentou no discurso. Trabuco pontuou ainda que o Brasil "está nos trilhos" e que a agência de classificação de risco Standard & Poor's deu um voto de confiança de que as medidas estão no caminho correto.
O executivo mencionou ainda que o tripé de sustentação da economia voltou a funcionar, citando que a mudança do real face ao dólar criou alento aos exportadores, reduzindo os gastos dos brasileiros no exterior, encaminhando-se para um ajuste do balanço de pagamento.
"Por isso, diante de tantas incertezas e dificuldades, o governo terá de tomar decisões estratégicas", ressaltou. Trabuco lembrou, no entanto, que a economia tem dinamismo e capacidade rápida de resposta, apontando para a safra agrícola. "Temos vantagens comparativas com o mundo, que podem nos dar vantagens competitivas", disse. "Seja qual for o cenário da trajetória, temos uma agenda positiva."
Ele disse ainda que o Bradesco não tem nenhum constrangimento em operar o crédito, mas que existem certos riscos que o banco não pode sofrer, enquanto há outros que não se pode deixar de correr. "São momentos difíceis, que chamo de ambiguidade, mas entender esse processo nos dá vantagens", concluiu.
Construção civil
Para Trabuco, o setor de construção civil brasileiro tem grande espaço para geração de emprego e de riqueza. Ele destacou que o crédito imobiliário não chega a 10% do PIB e que tal indicador indica a perspectiva de expansão da atividade de construção civil. "Vemos o setor da construção civil com muito otimismo. É um setor que tem espaço grande de geração de emprego e riqueza. O Brasil tem déficit de construção civil. A baixa penetração do crédito imobiliário demonstra o espaço para a criação de valor", afirmou.
BR Distribuidora
Trabuco negou que a instituição financeira tenha interesse em adquirir fatia da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. "Nós temos respeito pela Petrobras, ela tem um papel fundamental para o Brasil, somos banqueiros da Petrobras. Mas como ativo para o Bradesco (a BR Distribuidora), não", disse. "O que estamos fazendo para ajudar a Petrobras é ver como ela poderia vender um lote, como poderia transformar esse ativo", destacou, indicando que o banco assessora a estatal para a venda da BR Distribuidora.
*Texto atualizado às 18h16