Economia

Presidente da Argentina diz que quer negociar com credores

Comentário de Cristina Kirchner provocou forte contração nos spreads de risco do país


	Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, discursa ao lado do vice-presidente
 (Agustin Marcarian/Reuters)

Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, discursa ao lado do vice-presidente (Agustin Marcarian/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2014 às 20h20.

Buenos Aires - A presidente da Argentina, Cristina Fernandez, disse nesta sexta-feira que o governo quer negociar com todos os credores do país, em meio a expectativas de que o país está pronto para iniciar conversas com detentores de bônus que se recusaram a participar da reestruturação da dívida.

"Queremos pagar 100 por cento dos credores", afirmou ela em discurso no dia da bandeira na Argentina. O comentário provocou forte contração nos spreads de risco do país.

O país trava uma batalha de 12 anos na justiça dos Estados Unidos com credores que não participaram das reestruturações de 2005 e 2010, nas quais mais de 90 por cento dos detentores aceitaram reduzir para um terço o valor original dos títulos.

E até então, a Argentina vinha se negando a negociar com credores que ficaram de fora da reestruturação. A presidente chegou a classificá-los como "urubus" que buscam levar vantagem da crise de dívida soberana de 2002, que levou milhões de argentinos de classe média para a pobreza.

Nesta sexta-feira, o tom mais duro de Cristina desapareceu do discurso. "A Argentina quer ter um diálogo", disse ela.

O próximo pagamento da dívida reestruturada deve ocorrer em 30 de junho. Se a Argentina não fizer o pagamento a tempo, teria um período de carência de 30 dias antes de cair em default técnico.

"Eu dei instruções ao nosso Ministério da Economia e para os nossos advogados pedirem à justiça para gerar as condições para se chegar a um acordo que seja benéfico e igualitário para 100 por cento dos credores", disse Fernandez.

As ações argentinas negociadas nos Estados Unidos subiram com os comentários. O índice do Bank of New York de ADRs argentinas subiu mais de 6,6 por cento. No entanto, na semana, o índice avançou 1,2 por cento.

Os spreads de risco argentinos encolheram mais de 100 pontos-base em relação aos títulos da dívida dos EUA, de acordo com o JP Morgan Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI+), que no geral ficou em 284 pontos-base sobre os Treasuries.

Menores Reservas

A motivação da presidente argentina é resolver o litígio e permanecer o ano e meio restante no cargo sem o tumulto financeiro que iria acompanhar um default.

Ela está constitucionalmente impedida de buscar um terceiro mandato na eleição presidencial marcada para outubro de 2015.

Os principais candidatos à sucessão de Cristina dizem que pretendem seguir políticas mais favoráveis ​​ao investimento. O governo dela ampliou o papel do Estado na terceira maior economia da América Latina, com pesados controles cambiais, barreiras de importação, impostos sobre a exportação de grãos de soja e controles sobre milho e embarques de trigo.

O impasse nos tribunais norte-americanos tem impedido o país de acessar o mercado de títulos global. O financiamento externo é necessário para melhorar a infraestrutura agrícola da Argentina e estimular a economia que enfrenta alta inflação e diminuição das reservas do banco central para mínimos em oito anos de 28,5 bilhões de dolares.

O valor das reservas não é muito, considerando os quase 6 bilhões de dólares em pagamentos de dívidas que o governo enfrenta este ano e os cerca de 10 bilhões de dólares em 2015, de acordo com o Ministério da Economia.

Além disso, a Argentina fechou acordo de 5 bilhões de dólares de compensação com a espanhola Repsol pela nacionalização em 2012 da sua subsidiária argentina YPF e concordou em pagar 9,7 bilhões de dólares em dívidas vencidas com clube de credores de Paris.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaArgentinaCristina KirchnerDívida públicaDívidas de paísesPolíticos

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo