Mão robótica da Shadow Robot no evento Streetwise Robots, do Museu de Ciência Dana Centre, em Londres (Jeff J Mitchell/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 5 de abril de 2014 às 08h00.
São Paulo – Co-fundador da Intel, o americano Gordon Moore entrou para a história por afirmar em 1965 que a capacidade dos processadores dobraria a cada dois anos.
Sua sugestão de que o desenvolvimento tecnológico ocorre de forma exponencial ganhou o nome de “lei de Moore” e é o ponto de partida para o livro “The Second Machine Age” (“A Segunda Era das Máquinas", em tradução livre), lançado no início deste ano.
Seus autores são Erik Brynjolfsson, diretor do centro do MIT para negócios digitais, e Andrew McAfee, também pesquisador do órgão e ex-professor de Harvard (não confundir com o polêmico John McAfee).
A dupla afirma que estamos em “um ponto de inflexão: uma virada na curva onde muitas tecnologias que só eram encontradas na ficção científica estão virando uma realidade cotidiana”.
Alguns exemplos: os carros sem motorista do Google, os softwares que conversam como humanos (como o Siri) e ferramentas que funcionam através de big data e inteligência coletiva (como o Waze) - e isso sem falar no boom da robótica.
Todas estas inovações chamam a atenção exatamente por ocorrerem em áreas - como a da comunicação complexa - que pareciam definitivamente reservadas ao trabalho humano.
Para os autores, o progresso tecnológico é lento e gradual até que explode, e é exatamente esse o momento que estamos vivendo: “os computadores estão fazendo para nosso poder mental o que o motor a vapor fez para nosso poder físico”. O resultado: a maior transformação na história desde a Revolução Industrial.
Uma nova economia
Erik e Andrew destacam que o custo para reproduzir bens digitais (como um mp3) beira zero. Isso desafia a própria base do sistema capitalista, o que já estamos vendo com os sites de compartilhamento e as indústrias de entretenimento. Nasce aí uma economia baseada não mais na escassez, e sim na abundância (uma questão explorada em profundidade por outro livro recente).
Isso também faz com que nossa forma de medir o Produto Interno Bruto (PIB) e o desenvolvimento fique cada vez mais defasada. Uma ligação no Skype ou uma ferramenta como a Wikipedia claramente agregam valor para a economia, mas são invisíveis para as estatísticas. A mensagem: se a economia mudou, o mesmo deve acontecer com as métricas.
E isso sem falar nos trabalhadores. Apesar do forte aumento da produtividade nas últimas décadas, a renda média do trabalhador americano está praticamente estagnada desde 1979 e a desigualdade explodiu.
Enquanto outros economistas apontam para o sistema tributário e a globalização, Erik e Andrew são claros: a culpada é mesmo a tecnologia.
As empresas precisam cada vez menos de trabalhadores pouco qualificados e já não há uma relação entre o tamanho de uma empresa do ponto de vista financeiro e do ponto de vista concreto. A compra por US$ 19 bilhões do WhatsApp, uma empresa com 55 funcionários, é um bom exemplo disso.
Há também o “efeito superstar”: hoje em dia, os melhores de cada campo – seja um CEO ou um cantor – tem uma possibilidade quase infinita de distribuir seu trabalho e maximizar os seus ganhos. Esse "efeito de escala" dificulta a competição para a maioria que não se destaca.
Políticas
Isso não significa que Erik e Andrew vejam o momento atual com pessimismo – muito pelo contrário. Eles acreditam que a nova era das máquinas trará mais variedade, riqueza e liberdade, mas algumas atitudes devem ser tomadas coletivamente para adaptar o mundo a esta nova realidade.
No curto prazo, eles recomendam foco total na educação, estímulos para o empreendedorismo, apoio a ciência e um novo sistema tributário para distribuir melhor os ganhos com a tecnologia. Para um horizonte mais longo, eles defendem ideias como uma espécie de "imposto negativo" que concilie a garantia de uma renda básica com o incentivo ao trabalho.