Símbolo do euro: a moeda única tem se valorizado em relação ao dólar (Daniel Roland/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de maio de 2014 às 14h54.
Bruxelas - O Banco Central Europeu (BCE) não alterou sua principal taxa de juros nesta quinta-feira, mas manteve uma "discussão séria" sobre o tipo de câmbio do euro que, associado à baixa inflação, gera "preocupação", podendo levar a entidade a entrar em ação em junho.
"A apreciação do euro em contexto de baixa inflação e com atividade econômica lenta é motivo de preocupação real, de séria preocupação", disse o presidente do BCE, Mario Draghi, em coletiva de imprensa após a reunião mensal do Conselho de Governadores celebrada em Bruxelas.
"Tivemos uma discussão séria sobre o tipo de câmbio, que é muito importante para a estabilidade de preços e para o crescimento", acrescentou ao comentar as discussões do Conselho de Governadores, que decidiu não alterar a taxa de juros de 0,25%.
A moeda única tem se valorizado em relação ao dólar desde julho de 2012. Durante a coletiva de Draghi, o euro alcançou um pico de 1,3993 dólares às 12h40, valor que não se via desde outubro de 2011.
Draghi argumentou que o BCE não está disposto a "ter uma baixa inflação durante muito tempo".
Adiantou ainda que a taxa de inflação, que em abril foi de 0,7%, se manterá neste nível durante 2014 e que o índice de preços crescerá em 2015 para até o final de 2016 aproximar-se dos 2% recomendados pela entidade de Frankfurt para a zona do euro.
"Acompanharemos de perto a situação econômica e o mercado de câmbio. Manteremos um alto grau de liquidez se necessário", afirmou.
Diante do risco de que a baixa inflação se transforme em deflação, o que Draghi já havia descartado em outras ocasiões, o presidente do BCE assegurou que a entidade pode fazer modificações em sua política monetária na reunião de junho.
"O Conselho de Governadores se sente à vontade para atuar da próxima vez, mas antes queremos ver as projeções econômicas que serão publicadas (pelo BCE) no começo de junho", disse.
O resultado dessa reunião faz com que os analistas especulem uma nova queda da taxa de juros na próxima reunião, assim como da taxa de refinanciamento.
"A ênfase conferida por Mario Draghi aos índices (de inflação e de crescimento) que serão divulgados pelo BCE em junho, sugere que está em curso um novo corte na taxa de juros", arrisca Tom Rogers, economista da EY.
"Provavelmente haverá um efeito real limitado, mas concordamos que seria uma boa decisão", acrescentou.
No mesmo sentido opinou Howard Archer, do IHS Global Insight, que supõe que em junho o BCE pode levar a taxa para depósitos a níveis negativos, de 0% a -0,1%, assim como pode rebaixar a taxa de refinanciamento dos 0,25% para os 0,15%.
Além disso, Draghi afirmou que o Conselho de Governadores é "unânime em seu compromisso" de utilizar todo tipo de instrumentos não convencionais para "superar eficazmente os riscos de um período muito prolongado de baixa inflação".
Segundo Holger Schmieding, economista de Berenberg, é justamente o que o BCE deveria fazer.
"Se o BCE atuar em junho, haverá alguma diferença? Seguramente não", arrisca Schmieding, para quem uma pequena baixa nos juros ou um novo empréstimo de longo prazo (LTRO) aos bancos teria poucos efeitos.
"Enquanto isso, uma compra massiva de ativos privados e públicos ("Quantitative easing", QE) está fora da agenda", estima. "Seria necessário uma queda maior dos principais indicadores para que fosse tomada uma medida deste tipo", sustenta.