Economia

Por que reformar a Previdência é tão importante (e difícil)

“O novo regime fiscal não viverá sem a Reforma da Previdência, que é impostergável", disse Darcísio Perondi, deputado federal pelo PMDB, em debate hoje em SP

Idosos descansam em uma praça do Rio de Janeiro (Christophe Simon/AFP)

Idosos descansam em uma praça do Rio de Janeiro (Christophe Simon/AFP)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de agosto de 2016 às 18h51.

São Paulo - Só vamos resolver a questão da dívida se reformarmos a Previdência - e a hora do embate chegou.

Esse foi o tom de um debate realizado hoje na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) sobre o tema.

Os principais pontos da proposta do governo, ainda não apresentada, estão sendo negociados com centrais sindicais e representantes de empresários (veja detalhes).

José Cechin, que foi secretário-executivo por 7 anos e ministro da Previdência por alguns meses no segundo mandato de Fernando Henrique, apresentou no debate a trajetória dos gastos no setor considerando as projeções de envelhecimento da população.

A taxa de dependência, que mede a relação entre número de idosos e de pessoas em idade ativa para trabalhar, saltou de 12 por 100 em 1980 para 19 por 100 atualmente.

A previsão é de alta para 52 idosos na população para cada 100 pessoas com idade de trabalhar em 2050. O mesmo processo deve fazer com que a porcentagem de beneficiários da Previdência entre os brasileiros vá de 24% em 2030 para 35% em 2050.

Teto de gastos

3 de cada 4 reais gastos pelo governo são em transferências para pessoas, seja por aposentadorias, pagamento de pessoal, seguro-desemprego ou programas sociais.

A principal proposta do governo até agora é de uma emenda constitucional de teto dos gastos, que seriam corrigidos ano a ano apenas pela inflação. 

Se os gastos com aposentadorias continuarem subindo no ritmo atual, as outras despesas ficariam cada vez mais pressionadas para caber no teto e seriam necessários cortes radicais.

“O novo regime fiscal não viverá sem a Reforma da Previdência, que é impostergável", diz Darcísio Perondi, deputado federal pelo PMDB do Rio Grande do Sul.

As despesas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que eram de 2,6% do PIB na época da Constituição de 1988, pularam para 7,4% em 2015.

Rejeição popular

Segundo José Pastore, presidente do Conselho das Relações do Trabalho e Emprego da Fecomercio, é preciso "um plano de comunicação" para contornar a rejeição da população.

Segundo o Datafolha, 53% dos brasileiros são a favor e 43% são contra a idade mínima para aposentadoria. A maioria pretende se aposentar antes dos 60 anos, abaixo do que deve propor a reforma.

"A explicação sobre a idade mínima precisa vir embrulhada em um conceito de que a sociedade vai pagar menos pela ociosidade de quem quer trabalhar menos e pagar mais para quem decidir continuar trabalhando", diz Paulo Delgado, ex-deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Reformas desse porte costumam ser debatidas e propostas em contextos eleitorais para depois serem aplicadas por políticos com mandatos populares inequívocos - nada mais distante do momento atual.

Além do mais, a impopularidade das propostas preocupa partidos à beira de uma eleição municipal. A reforma deve ficar para depois, mas pode continuar tóxica. 

Segundo Perondi, a falta de contato com o tema é o maior problema entre os políticos: "A desinformação no meio parlamentar sobre esse assunto é geral; é mais desinformação do que medo das urnas".

Acompanhe tudo sobre:AposentadoriaAposentadoria pelo INSSCálculo de aposentadoriaFecomércioINSSPrevidência Social

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor