Criança segura um globo terrestre: investimentos de impacto social ainda tem potencial inexplorado (SXC.Hu/Divulgação)
João Pedro Caleiro
Publicado em 8 de maio de 2014 às 12h28.
São Paulo – Não é filantropia, mas também não é business as usual. O mundo dos "investimentos de impacto" busca outro caminho: medir o retorno do dinheiro não só em termos financeiros, mas em resultados sociais.
“É um conceito, muito mais que um setor. Está ali no meio entre os negócios convencionais e o terceiro setor”, diz Pedro Vitoriano, do Projeto Brasil 27, que visitou pelo menos um negócio social em cada um dos estados do país.
Ele foi um dos participantes do Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, realizado nos dias 6 e 7 de maio no Complexo Ohtake Cultural, em São Paulo.
Em outro painel, Paulo Belotti, gestor do MOV Capital, fundo para investimentos com impacto social, dá uma definição parecida: “Se nós só damos o impacto social sem retorno financeiro, somos uma ONG. Se nós só damos o retorno financeiro sem impacto social, somos um fundo como qualquer outro.”
E dá um exemplo concreto do que significa gerir um fundo dessa natureza: “Entre uma empresa A com retorno de 35% sem tese de mudança e uma empresa B com retorno de 20% com forte tese de mudança, eu, como gestor da MOV, escolho a B. Isso significa que o retorno social-ambiental do meu portfólio é maior que o de um portfólio tradicional, mesmo que o retorno financeiro seja menor."
Ele reconhece que o modelo sai mais caro para o investidor, mas a boa notícia é que eles existem: "É a vontade de talvez mudar o mundo e desenvolver formas de combater nossas mazelas. É o retorno social e ambiental, que também tem um valor diferente na cabeça de cada investidor".
Histórico
A primeira Força Tarefa de Finanças Sociais apareceu em 2002 no Reino Unido através de uma parceria do governo britânico com Sir Ronald Cohen, fundador do Big Society Capital. Em junho do ano passado, o G8 lançou a sua própria Força Tarefa de Investimento de Impacto Social.
No Brasil, o conceito só começou a ganhar espaço recentemente. Entre 2012 e 2014, mais de 10 fundos de investimento de impacto social foram criados ou começaram a investir no Brasil.
Um dos organizadores do evento, o Vox Capital foi um dos pioneiros, em 2009. Antônio Ermírio Neto de Moraes, co-fundador e sócio do fundo que gere R$ 84 milhões, deu uma ideia do potencial do ramo:
“O mundo tem hoje US$ 64 trilhões em ativos que podem ser investidos. Se colocarmos este valor na escala do Burj Khalifa, o maior prédio do mundo, a participação dos recursos aplicados em investimentos de impacto social seria hoje o equivalente a uma mesinha de 60 centímetros de altura.”
De acordo com o J.P. Morgan, a indústria global de investimento de impacto social tem o potencial de movimentar US$ 1 trilhão até 2020. Investidores entrevistados estimaram que esse tipo de investimento poderia representar até 12% de seus portfólios, em média, no espaço de 10 anos.
O evento foi encerrado com o lançamento da Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais, formada por Andre Degenszajn (GIFE), Antonio Ermírio de Moraes Neto (Vox Capital), Ary Oswaldo Mattos Filho (Mattos Filho), Fabio Barbosa (Grupo Abril), Guiherme Affonso Ferreira (Bahema Participações S/A) e Vera Cordeiro (Saúde Criança).