Economia

Por que os juros devem ser cortados hoje pela 1ª vez em 4 anos

Aposta predominante no mercado é que Banco Central fará o primeiro corte na Selic desde outubro de 2012

Banco Central com ipê roxo na frente (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Banco Central com ipê roxo na frente (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 19 de outubro de 2016 às 11h05.

Última atualização em 19 de outubro de 2016 às 11h37.

São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central está reunido em Brasília e deve anunciar hoje, após as 18 horas, a sua decisão sobre a taxa de juros.

Itaú Unibanco, Barclays e Goldman Sachs esperam um corte de 0,25 ponto percentual nos atuais 14,25%. Para o banco Fibra, ele será ainda mais agressivo: meio ponto percentual.

Um levantamento da Bloomberg com 55 economistas e instituições financeiras contabiliza 33 que esperam corte de 0,25 ponto percentual, 22 prevendo corte de meio ponto e 3 que apostam em manutenção da taxa.

Se confirmado, seria o primeiro corte da Selic em mais de 4 anos. A taxa teve várias altas consecutivas após as eleições de 2014 e está inalterada há mais de um ano no seu maior patamar em uma década.

Na sua última ata, do final de agosto, o BC havia estabelecido algumas condições que permitiriam um corte – e elas vêm se confirmando.

Inflação

A principal é o enfraquecimento da inflação. Na época da última ata, a previsão do Boletim Focus para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) estava em 7,34% para 2016 e 5,14% para 2017. Agora, caiu para 7,01% e 5,04%, respectivamente.

O número já chegou perto do centro da meta de 4,5% definida pelo governo e que o presidente do BC, Ilan Goldfajn, prometeu cumprir já no ano que vem.

Detalhe: a inflação não fica no centro da meta desde 2009 e no ano passado atingiu dois dígitos.

“Em discursos recentes, os membros do Copom reforçaram a mensagem do relatório de inflação e também sinalizaram que o horizonte relevante de política monetária não é estático e se desloca continuamente com o passar do tempo”, aponta o relatório do Itaú Unibanco.

O otimismo cresceu após o IPCA de setembro ter registrado 0,08%, menor taxa para o mês desde 1998 e muito abaixo da expectativa do mercado.

Isso aconteceu graças a uma queda nos preços dos alimentos, o grupo de maior peso no índice e cujas altas persistentes haviam sido citadas como obstáculo pelo BC.

A inflação de serviços continua persistente, “mas já dá sinais de estar cedendo diante do hiato crescente do produto e da frouxidão do mercado de trabalho”, diz o relatório de Alberto Ramos, diretor de pesquisa para América Latina do Goldman Sachs.

A queda no poder de compra para níveis de 2011 e a persistência de dados negativos de atividade econômica são péssimas notícias, mas aliviam a perspectiva de pressão nos preços.

Política fiscal

Na sua última ata, o BC definia a política fiscal como “um risco e uma oportunidade para o processo desinflacionário”.

Um governo que gasta demais acaba tendo que se financiar pela impressão de moeda, como aconteceu nos anos 80, enquanto a austeridade segura nesse processo.

Com a aprovação em primeiro turno com folga da emenda constitucional que define um teto para os gastos públicos com base na inflação do ano anterior, o clima no mercado é que o governo tem força política para levar reformas adiante.

“No front fiscal, a agenda evoluiu de forma mais rápida e sólida do que estávamos antecipando”, diz o relatório do Barclays divulgado nessa semana.

Outros fatores que favorecem um corte são a força do real, que barateia os importados, e o recente anúncio de corte nos preços da gasolina e do diesel, outro item importante no consumo das famílias.

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