Apoiadores de Donald Trump descansam antes de comício (Andrew Harrer/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 24 de novembro de 2016 às 15h32.
Última atualização em 24 de novembro de 2016 às 17h23.
São Paulo - Se os eleitores de Donald Trump estão com a renda estagnada, por que eles não votaram em quem defende mais ajuda governamental?
Como que uma revolta contra as "elites" levou ao triunfo de um bilionário que defende o corte de impostos para os mais ricos?
Uma tentativa de responder a esses aparentes mistérios foi feita por Robert Shiller, vencedor do Nobel de Economia em 2013, em uma coluna recente para o Project Syndicate.
O argumento é que os perdedores da globalização querem de volta o controle de seu destino, e não uma correção a posteriori vinda de fora.
"A redistribuição parece aviltante. Dá a sensação de ser rotulado como um fracasso. Parece instável. Dá a sensação de estar preso em uma relação de dependência, e uma que pode entrar em colapso a qualquer momento", diz Shiller.
Ele cita um estudo de Kenneth Scheve, de Stanford, e David Stasavage, da New York University, que analisou dois séculos de dados sobre desigualdade e taxas de imposto em 20 países.
A conclusão: períodos de aumento da desigualdade simplesmente não geram a tendência de deixar o código tributário mais justo e progressivo.
Mas se não for por redistribuição, como Trump pretende satisfazer as classes médias decadentes que o colocaram no poder?
Sua resposta até agora tem focado em protecionismo e renegociação de acordos comerciais. Ele até tem o poder para fazer isso, mas sob risco de gerar guerras comerciais e outras consequências perigosas.
Trump dificilmente conseguirá gerar os tipos de emprego que promete por causa de um fator que ele prefere ignorar: a tecnologia.
Em 1980, eram necessários 25 empregos para gerar US$ 1 milhão em produção manufatureira nos Estados Unidos, segundo o instituto Brookings. Hoje, são necessários apenas 6,5 empregos para gerar o mesmo montante.
E a tendência é clara, com estudos mostrando que a robotização pode ameaçar praticamente metade dos empregos americanos nos próximos 10 a 20 anos.
"A revolução Trump, como apresentada até agora, muito provavelmente não conseguirá entregar o que seus apoiadores realmente querem: um aumento no poder econômico dos trabalhadores", completa Shiller.