Economia

Querem um PIB bem maior? Deixem as mulheres trabalharem

As mulheres são metade da população do mundo, mas só um terço da força de trabalho. Abrir espaço para elas é vital para o crescimento da economia, diz o FMI


	Mulheres trabalham em fábrica da Samsung na Indonésia
 (Dimas Ardian/Getty Images)

Mulheres trabalham em fábrica da Samsung na Indonésia (Dimas Ardian/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 14 de maio de 2014 às 17h03.

São Paulo – No início de abril, duas das mulheres mais poderosas do mundo se reuniram para uma entrevista conjunta no 5º Encontro de Mulheres do Mundo, em Nova York.

De um lado, Hillary Clinton, ex-senadora e Secretária de Estado e líder indiscutível na corrida presidencial de 2016 (mesmo sem ter nem assumido a candidatura).

Do outro, a francesa Christine Lagarde, primeira mulher da história a dirigir o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Com a mediação de Thomas Friedman, colunista do New York Times, elas concordaram que o “teto de vidro” continua firme e forte mesmo para as mulheres mais respeitadas e bem-sucedidas.

Um exemplo singelo, para Lagarde, é “aquele sorriso que eu vejo frequentemente, quando há muitos ternos cinzas em volta da mesa e eu falo de questões femininas, do acesso das mulheres ao mercado de trabalho e da sua parcela na economia. Eu vejo aquele sorriso imperceptível e falo: sim! Eu sou a mulher lunática que fala sobre mulheres!”

Ela vem tentando não só ampliar o escopo e melhorar a imagem do FMI, mas também consolidar a ideia de que a inclusão feminina é uma necessidade básica de uma economia saudável.

Hillary concorda: “o argumento para a igualdade das mulheres era principalmente moral e político, mas onde ele está agora – como argumento econômico – representa tanto a maturidade da hipótese de que direitos femininos são direitos humanos quanto uma forma de angariar um apoio maior”.

Efeitos

As mulheres são metade da população mundial, mas só um terço da força de trabalho. Para a Organização Internacional do Trabalho, o trabalho feminino (pago e não pago) é hoje nada menos do que o fator mais importante para reduzir a pobreza nas economias em desenvolvimento. 

Um estudo recente do FMI dá os números: se as mulheres estivessem trabalhando na mesma proporção que os homens, o PIB seria 34% maior no Egito, 27% maior na Índia e 5% maior nos Estados Unidos.

E mesmo quando as mulheres trabalham, elas estão desproporcionalmente concentradas em setores de serviços e no trabalho informal ou de meio período – caracterizados por menor pagamento e status.

Até as que chegam no topo continuam enfrentando obstáculos. Das 250 maiores empresas brasileiras, apenas 3 são lideradas por mulheres. Entre as 500 maiores companhias do mundo (o Fortune 500), há apenas 23 presidentes-executivas.

Educação

Apesar do direito à educação ainda estar longe de ser garantido em alguns lugares (que o diga a Nigéria), este já não é mais o principal fator limitando o desenvolvimento feminino.

As disparidades de gênero na educação foram largamente superadas. Apesar do analfabetismo feminino ainda ser maior, a proporção entre matrículas de mulheres e homens supera 90% mesmo nos países menos desenvolvidos e tanto na educação primária quanto na secundária.


Renda

E ao contrário do que se imagina, não há uma relação linear entre renda per capita e participação feminina na força de trabalho.

A curva lembra mais um “U”: em países mais pobres, as mulheres precisam trabalhar simplesmente por pura necessidade. Quando o nível de renda (e a oferta de serviços públicos) melhora um pouco, elas podem sair do mercado de trabalho e se dedicar mais ao trabalho doméstico e ao cuidado das crianças.

Na medida que os países atingem níveis de renda avançados, a participação feminina volta a crescer – resultado de melhor educação, baixa fertilidade, e acesso a serviços.

Cultura

Obviamente, os fatores culturais também tem um peso grande. Além dos países do Oriente Médio, outro caso ilustrativo é o japonês: a terceira maior economia do mundo tem uma diferença de 25 pontos percentuais entre a participação masculina e feminina na força de trabalho.

A questão virou um dos centros da política econômica do primeiro-ministro Shinzo Abe. Ele sabe que não pode se dar ao luxo de ignorar o problema: já que a população do país envelhece rapidamente, incluir as mulheres é o jeito mais fácil de manter a força de trabalho com uma composição equilibrada.

Medidas

A boa notícia é que os governos não precisam esperar o fim do machismo para estimular a entrada das mulheres no mercado de trabalho (e, de quebra, suas economias). Algumas medidas são básicas, como mais vagas em creches e licença maternidade - no Brasil, ter filhos é o principal fator explicativo por trás do nem-nems (jovens que não estudam nem trabalham).

Um exemplo menos direto é o sistema tributário: já que as mulheres são geralmente o "segundo salário" da casa, taxar o casal conjuntamente serve como desestímulo para que ela trabalhe, o que não aconteceria com uma taxação individual.  

Cada país também pode inovar da sua forma. O relatório do FMI destaca o caso do Bolsa Família, que ao colocar a mulher da casa como receptora do benefício, ajudou a aumentar a independência financeira e a participação feminina na força de trabalho brasileira.

É importante lembrar também que em média, as mulheres gastam o dobro de tempo dos homens com o trabalho doméstico - que passa despercebido pelo PIB. A maior participação feminina depende também, portanto, de um equilíbrio melhor dentro de casa.

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