Economia

Por que o governo não reage mais à disparada da gasolina

Em julho de 2017, a Petrobras adotou uma política de reajustes baseada em câmbio e preço do barril de petróleo - que só vem subindo. É hora de mudar?

Petróleo chegou a bater na casa dos 80 dólares por barril (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Petróleo chegou a bater na casa dos 80 dólares por barril (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de maio de 2018 às 19h28.

Última atualização em 22 de maio de 2018 às 20h07.

São Paulo - Não é impressão: os preços de combustíveis estão mesmo subindo toda hora.

De acordo com o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o preço do diesel subiu 56% desde julho de 2017.

A questão atingiu em cheio o governo de Michel Temer com o protesto de caminhoneiros autônomos em 19 estados na segunda-feira e 22 estados na terça-feira, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

O governo diz que vai zerar a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) do diesel, mas não há espaço fiscal para mexer nos impostos que pesam mais e o preço está amarrado por outro fator.

Em julho de 2017, a Petrobras adotou uma nova política de reajustes quase que diários com base no preço do petróleo no mercado internacional e o câmbio.

"Não tem muita margem de manobra em cima dessa política nova", nota Fernanda Delgado, pesquisadora da FGV Energia.

A movimentação pode ser para cima e para baixo, mas tem tido um viés forte de alta nas últimas semanas porque os dois fatores de cálculo estão disparando.

O petróleo chegou a bater na casa dos 80 dólares por barril, nível não visto desde novembro de 2014, puxado por tensões geopolíticas que afetaram a oferta.

A saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã e os problemas da Venezuela significam centenas de milhares de barris a menos por dia no mercado e podem fazer a cotação subir ainda mais até o fim do ano, diz Fernanda.

Ela também destaca o interesse da Arábia Saudita em segurar produção para garantir o maior valor possível na oferta pública de ações da Aramco, sua estatal de petróleo, marcada para 2019.

Já o real se desvalorizou de forma acentuada. Além do cenário eleitoral incerto, há um movimento de queda de várias moedas emergentes diante da expectativa de juros maiores nos Estados Unidos, o que torna outros mercados menos atrativos em comparação e gera fuga de recursos.

Por que o governo não muda a fórmula?

O atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, exigiu do presidente Michel Temer liberdade total para assumir o cargo e resiste a qualquer percepção de que a estatal está sendo usada para fins políticos.

"Esse debate é populista e já foi superado", opina Walter de Vitto, especialista no setor de petróleo da consultoria Tendências.

Ainda está fresca na memória a experiência do primeiro governo de Dilma Rousseff, quando o preço da gasolina era represado para ajudar a manter a inflação abaixo do teto da meta.

“Isso gerou um prejuízo muito grande e foi uma das coisas que quebraram a Petrobras. Uma das melhores coisas que esse governo fez foi equacionar a situação da empresa e acabar com essa ingerência política”, diz Paulo Feldman, professor de Economia da USP.

A Petrobras registrou no primeiro trimestre do ano seu melhor resultado em 5 anos e vai fazer sua primeira distribuição de dividendos desde 2014.

Mas Feldman vê com simpatia uma das ideias que vem sendo circuladas, que é de manter os reajustes mas com frequência menor – não mais quase diária mas semanal, por exemplo.

Os reajustes constantes são criticados por Paulo Furquim de Azevedo, professor de regulação do Insper, que defende um espaçamento maior ou com algum gatilho pré-determinado.

"Não é porque foi reação a uma política ruim que é uma política boa. Embora tenha a virtude de colocar os preços pelo quanto de fato custam, carrega desnecessariamente toda a volatilidade e nervosismo dos mercados cambial e de petróleo", diz ele.

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