Uber: a premiê britânica afirmou que as leis devem se adequar às mudanças do mundo do trabalho (Oli Scarff/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2017 às 18h31.
Londres - O “white van man”, que literalmente significa “homem da van branca”, é um conhecido estereótipo britânico. Mas os trabalhadores autônomos da atualidade têm uma propensão semelhante para dirigir um Uber, vender trabalhos de artesanato no Etsy ou entregar hambúrgueres de bicicleta com o Deliveroo.
Nesta terça-feira, a primeira-ministra britânica, Theresa May, prometeu “apoiar aqueles que se atrevem a sonhar e a pensar grande” durante a publicação de uma revisão das práticas trabalhistas.
A revisão, encomendada no ano passado, exige que os trabalhadores da chamada economia gig e dos contratos de trabalho zero hora recebam mais proteções, incluindo um salário mínimo mais elevado para aqueles que trabalham sem garantia mínima de horas. May disse que responderia às recomendações de forma detalhada no fim do ano.
“Estou afirmando categoricamente que esse governo atuará para garantir que os interesses dos empregados que têm contratos tradicionais, dos trabalhadores autônomos e daquelas pessoas que trabalham na economia ’gig’ sejam devidamente protegidos”, disse May. “Com a mudança do mundo do trabalho, nossas práticas e leis podem refletir e acomodar adequadamente essas mudanças.”
Depois que o chanceler do Tesouro britânico, Philip Hammond, disse que a “uberização” da economia poderia resultar em 3,5 bilhões de libras (US$ 4,5 bilhões) em receitas perdidas por ano, estes são os assuntos discutidos.
Um relatório encomendado pelo governo apontou que as práticas de trabalho autônomo “fictício” estão “possivelmente criando uma carga extra para o estado de bem-estar social e ao mesmo tempo reduzindo as contribuições fiscais que o sustentam”.
A Uber respondeu ao relatório, afirmando que os motoristas da Uber ganham em média 15 libras por hora e que se inscrevem para o trabalho porque querem ser seus próprios chefes.
“Nós sabemos que os motoristas também querem mais segurança e é por isso que já estamos investindo em cobertura de doenças e lesões e vamos introduzir novas melhorias em breve”, disse Andrew Byrne, chefe de políticas da empresa no Reino Unido, em declaração enviada por e-mail.
A Deliveroo também publicou declaração alertando o governo a “não se iludir pensando que qualquer medida para restringir a flexibilidade será capaz de minar a razão que atrai as pessoas para trabalhar nesse setor”.
Mais de um terço das pessoas que começaram em novos trabalhos desde 2010 é classificado como autônomo, apontou um relatório encabeçado pelo deputado Frank Field, do Partido Trabalhista.
Como mostraram os comentários da chanceler no último orçamento, isso coloca uma carga extra sobre o governo, porque reduz a arrecadação de impostos do seguro nacional e significa que haverá mais trabalhadores sem fazer contribuições previdenciárias.
Isto, além do clima político atual, dá ao governo um forte incentivo para enfrentar a questão, o que pode ser uma má notícia para empresas como a Uber.
Os trabalhadores da economia gig não recebem os benefícios dos empregados tradicionais, como férias e pensões. Devido ao envelhecimento da população, o pagamento de pensões estatais do Reino Unido está sob pressão e o governo de May até o momento não combateu o problema.
A falta de provisão para pensões da economia gig poderá fazer uma carga maior recair sobre o Estado, porque os trabalhadores atingirão a idade de aposentadoria sem nenhum direito a pensão de seus empregadores.