Filhote de leão: a crise fez a mordida ficar (relativamente) menor (Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 25 de agosto de 2016 às 17h43.
São Paulo - A crise econômica derrubou a carga tributária no Brasil para níveis não vistos desde 2002.
Se os resuitados da receita do governo federal até junho forem mantidos, a carga tributária fechará 2016 em 33,1% do PIB.
O cálculo foi feito pelo Termômetro Tributário do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), coordenado por José Roberto Afonso, professor do programa de mestrado da instituição, e Kleber Pacheco de Castro, doutorando na UERJ.
Vale notar que a conta deles é diferente daquela feito pelo Ministério da Fazenda e também do IBGE, que não considera os royalties e as multas e juros de mora da dívida ativa.
A maior carga na série histórica foi de 34,7% do PIB, registrada em 2005 e em 2008. Isso significa que a queda até o presente seria de 1,6 ponto percentual do produto total.
Uma parte dessa história foi as desonerações tributárias feitas pelo governo a partir de 2010, que devem representar uma renúncia fiscal de meio trilhão de reais no período entre 2010 e 2018, segundo a Receita Federal.
Depois da chegar a 34% do PIB em 2011, a carga tributária caiu todos os anos desde então.
"Esse “derretimento” da receita tributária desde 2012 ajuda a compreender um pouco a crise fiscal pela qual o país passa atualmente", diz o relatório.
A outra parte da história da crise fiscal é o aumento do gasto: de 2008 a 2015, as despesas cresceram 50% acima da inflação, problema que o governo tenta combater com a proposta de um teto de gastos.
Números recentes
O principal fator de queda da arrecadação no período mais recente, no entanto, é mesmo a recessão profunda, talvez a pior da história do país.
Da mesma forma que a arrecadação subia mais rápido do que a atividade na época de bonança, ela agora cai mais rápido do que a economia como um todo.
"A guinada na tendência do termômetro no último trimestre do ano passado deveu-se, basicamente, aos péssimos resultados da arrecadação federal neste período", diz o texto.
Nesse sentido, a virada foi no meio do ano passado. Houve trajetória crescente do termômetro até o terceiro trimestre (inclusive) e, a seguir, uma forte queda do indicador no quarto trimestre – dois comportamentos completamente diferentes dentro de um mesmo ano fiscal.
Nos últimos 12 meses até junho, as receitas previdenciárias federais caíram 7,4% e as outras receitas administradas da União, a maior parte do termômetro, caíram 7% (todos os números são em termos reais, já corrigidos pela inflação).
Em julho, a arrecadação teve queda de 5,8% em relação a julho de 2015. Foi o pior resultado para o mês desde 2010, segundo a Receita Federal.
Apesar de ter caído na comparação história recente, a carga tributária no Brasil segue muito alta na comparação com outros países emergentes.
O Brasil também é o país com a maior carga tributária em toda América Latina e Caribe, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Proporcionalmente, o montante é mais de 50% superior à média da região.
"Dado que o Brasil tem gasto elevado, a carga tributária do Brasil também é acima da media dos Países emergentes. Isso é uma decisão política. Para sustentar o gasto, precisamos de carga tributária alta", disse recentemente o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida.
Veja a evolução da carga tributária nos últimos 20 anos:
Carga tributária | |
---|---|
1995 | 26,93% |
1996 | 26,85% |
1997 | 27,41% |
1998 | 27,67% |
1999 | 29% |
2000 | 30,56% |
2001 | 32,05% |
2002 | 33,28% |
2003 | 32,60% |
2004 | 33,62% |
2005 | 34,75% |
2006 | 34,43% |
2007 | 34,59% |
2008 | 34,76% |
2009 | 33,16% |
2010 | 33,23% |
2011 | 34,10% |
2012 | 34,09% |
2013 | 33,71% |
2014 | 33,42% |
2015 | 33,34% |
2016 (est.) | 33,01% |