Standard and Poor's: rebaixamento de outra agência pode piorar ainda mais a situação da economia brasileira (Eric Piermont/AFP)
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2015 às 16h18.
São Paulo - Como se sabe, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou a nota de crédito da dívida do governo brasileiro, que deixou de ser grau de investimento e passou a levar o carimbo de grau especulativo. Trocando em miúdos: a instituição considera que o Brasil não faz mais parte do clube de países com baixíssimo risco de não pagarem suas dívidas.
O ex-presidente Lula minimizou o problema. Disse que a perda do grau de investimento não importa. Outras pessoas foram ainda mais agressivas, tentando desqualificar a S&P por causa de sua atuação desastrosa na crise dos EUA em 2008.
É verdade que as agências de classificação de risco pisaram na bola na última década. Basicamente, atribuíram baixíssimo risco a investimentos que, no fim das contas, se mostraram muito ruins. Mas, apesar de tudo isso, a opinião das agências continua, sim, importando.
Por quê?
No mundo há três principais agências de classificação de risco. Além da S&P, Moody’s e Fitch dominam mais de 90% desse mercado. Elas atribuem notas às dívidas de empresas e governos, que refletem as chances de suas obrigações com os credores serem honradas. E há ainda duas classificações mais amplas: os tais graus de investimento e especulativo.
Para um conjunto importante de investidores, essa classificação importa de maneira crucial. Eles só podem colocar seu dinheiro em países ou empresas com a etiqueta de grau de investimento. Esse tipo de regra consta nos estatutos de grandes fundos de pensão e fundos de investimento no mundo inteiro.
Assim, ao perder o grau de investimento, a base de potenciais investidores de uma economia diminui consideravelmente, afinal, esses fundos ficam proibidos de investir no país rebaixado. Para continuar a atrair outros investidores para financiar sua dívida, o governo terá que pagar juros mais altos como contrapartida.
O que isso significa?
Significa que administrar essa dívida ficou mais caro. Que requer um esforço fiscal maior ao longo do tempo – ou seja, mais impostos e menos gastos para conseguir pagar retornos mais elevados e não afugentar de vez os investidores.
A situação nacional é essa e pode ficar ainda mais feia. Alguns investidores importantes requerem o grau de investimento de ao menos duas das três principais agências. Se já foi ruim o Brasil perder esse selo da S&P, um rebaixamento da Moody’s ou da Fitch aprofundaria o problema.
Quem paga por isso? Todos nós, com impostos mais elevados para sustentar essa dívida mais cara. Com um primeiro agravante: impostos mais altos, gastos menores e juros mais elevados tendem a aprofundar a recessão que estamos vivenciando. Resultado? Desemprego em rota crescente e menor crescimento dos salários.
Segundo efeito nocivo: quando a dívida pública de um país é rebaixada, as notas das empresas também tendem a ser rebaixadas. Isso já ocorreu com mais de 50 companhias brasileiras, como efeito dominó da decisão da S&P. Essas firmas também terão maior dificuldade em se financiar. Planos de investimento foram prejudicados e isso coloca mais um freio na já parada economia brasileira.
Isso explica em boa parte a tentativa do governo de cortar mais gastos e ressuscitar a CPMF: tentar, de qualquer forma, convencer as outras duas agências de que o lado fiscal não está totalmente perdido.
Repetindo, para deixar ainda mais claro: a opinião das agências de classificação de risco importa sim. Pode ser que Dilma, Lula, eu, você, seu vizinho, não importa quem, todos achemos que elas não valem de nada. Que deveriam ser ignoradas depois de sua atuação na crise de 2008. Mas tudo isso se torna irrelevante se grandes investidores são obrigados a pautar suas decisões pela avaliação dessas mesmas agências.
A reação dos investidores diante das agências tem efeito crucial sobre o financiamento da dívida do governo e das empresas do país. E, no fim das contas, afeta nossos bolsos e a qualidade de vida de todos os brasileiros.